O evangelho deste 12º Domingo do Tempo Comum (Lc 9,18-24) parte de uma pergunta feita por Jesus aos discípulos: quem diz o povo que eu sou? Chamo atenção para o lugar. Era um lugar retirado, possivelmente não era o espaço físico da missão. Jesus estava em oração junto com o grupo dos discípulos. Era um momento importante para o Mestre e para o grupo. Um lugar retirado e em oração. Momento apropriado para avaliar a missão. Como se subisse a montanha para avaliar o caminho percorrido, o trabalho feito mediado pela oração porque a missão era delegação divina.
A pergunta traz outra interrogação sobre as motivações de Jesus ao interrogar os discípulos. A preocupação diz respeito aos interlocutores, aqueles que Jesus encontrou no caminho. Quanto a Jesus, tinha plena certeza da sua missão e do sentido dela.
As respostas que deram sobre Jesus são fruto da escuta angariada nas andanças com o Filho de Deus. Sugerem dois elementos. O primeiro, com certa controvérsia, é que não tinham ainda uma noção clara sobre quem era Jesus, o confundem com alguém do passado, um dos profetas como o texto expressa: uns dizem que é João Batista, outros dizem que é Elias; mas outros que é algum dos profetas que ressuscitou” (Lc 9,19). Somente conheceriam Jesus e sua proposta a partir de uma proximidade e vivência com o Filho de Deus.
O segundo tem um acento positivo. As pessoas ligam Jesus à tradição profética, o colocam na mesma trilha de profetas importantes do povo hebreu, certamente pela escuta de suas palavras e pelo que viram fazer. Entretanto precisavam ainda dar um passo a mais, mergulhar definitivamente no discipulado e suas consequências para saber quem Ele era.
Jesus faz a mesma pergunta, agora direcionada aos discípulos: “e vós quem dizeis que eu sou”? Pedro tomou a palavra e respondeu pelo grupo. Afirmou que Jesus era o “Cristo de Deus” (Lc 9,20). A resposta de Pedro, dada com decisão, difere da resposta “das pessoas” porque é fruto de um caminho percorrido, de uma proximidade com Jesus. Neste processo aprenderam a conhecer Jesus. Contudo, havia algo mais, uma exigência maior para o discipulado segundo o evangelista Lucas. Jesus, antes de iniciar a jornada para Jerusalém (Lc 9,53) prevê as dificuldades da missão: “o Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. O Cristo de Deus não seria um Messias triunfalista, mas o ungido por Deus (Lc 4,16) para realizar a sua obra e para tanto, em fidelidade a esta missão enfrentaria grande dificuldades porque toda a atividade exercitada em nome dos marginalizados, em nome dos últimos provoca o sistema injusto e por isso, a rejeição e a perseguição.
Jesus foi honesto e transparente ao revelar esta condição da sua missão. E disse ao grupo: “se alguém quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 19,23). Apresenta as condições para o discipulado. Não bastava conhecer Jesus e reconhecê-lo como Cristo de Deus. Era necessário um passo a mais que implicava em três atitudes: renunciar a si mesmo, ou seja, colocar a proposta de Jesus em primeiro lugar e não os próprios interesses. Tomar a cada dia a sua cruz, que se traduz em ter consciência das consequências da fé e dos compromissos da adesão à proposta de Jesus. Seguir a Jesus, continuando no mundo a sua palavra e a sua ação. O sentido da vida do discipulado está em assumir conscientemente estes princípios sugeridos pelo Mestre de Nazaré.
Tendo presente os nossos dias e nossa vida de fé, na condição de discípulos missionários, no impulso da caminhada jubilar, compreendemos três situações interligadas.
Conhecemos Jesus à medida que nos aproximamos Dele com o coração aberto para aprender com a sua proposta, como os discípulos e os cristãos de todos os tempos; este aproximar fez a diferença em suas vidas e pode fazer em nossas vidas. O ato de aproximar-se de Jesus e conhecer o Filho de Deus não é algo superficial. Muda a vida da pessoa porque permite mergulhar (baptizein) em um projeto que será determinante no futuro da pessoa segundo a proposta da renúncia, assumir a cruz e seguir os passos de Jesus (cf. Lc 9,23), como foi na vida dos discípulos e revelado com transparência por Jesus. O conhecimento da proposta de Jesus compreende a disponibilidade em assumir as consequências dessa proposta exercendo a liberdade da opção, ou seja, vivendo a alegria de ser evangelizador.
Possamos fazer a pergunta: conhecemos Jesus? O que o conhecimento de Jesus traz de consequência para a minha vida?
Pe. Ari Antonio dos Reis