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A história e a importância da erva-mate na cultura sul-americana Símbolo do Rio Grande do Sul, a erva-mate tem uma trajetória marcada por transformações e tradições

Foto: Divulgação

A erva-mate (Ilex paraguariensis), também conhecida como mate ou congonha, é uma árvore da família das aquifoliáceas, originária da América do Sul. Consumida amplamente no Brasil, Paraguai, Argentina, Uruguai, Bolívia e Chile, é a base de bebidas tradicionais como o chimarrão, o tereré e o chá-mate.

No Brasil, a erva-mate é reconhecida como árvore símbolo do Rio Grande do Sul desde 1980 e também integra os símbolos oficiais do Paraná, aparecendo em sua bandeira e brasão.

Origem do nome

A palavra “mate” vem do quéchua mati, que se refere ao recipiente utilizado para beber chimarrão. Já “congonha” tem origem no tupi kõ’gõi, que significa “o que mantém o ser”. O nome científico da planta, Ilex paraguariensis, foi atribuído pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que conheceu a erva-mate no Paraguai em 1820.

Características e cultivo

A erva-mate pode atingir até 12 metros de altura, mas no cultivo é mantida a cerca de três metros para facilitar a colheita. Suas folhas são ovais e seus frutos pequenos, de coloração verde ou vermelho-arroxeada. Originalmente, a reprodução da planta ocorria por meio de pássaros que ingeriam seus frutos e dispersavam as sementes.

Atualmente, mudas selecionadas são cultivadas em grandes hortos com técnicas avançadas. No sul do Brasil, é comum o plantio da erva-mate em conjunto com araucárias, estratégia que contribui para a conservação ambiental e a preservação do solo.

Produção e processamento

No passado, o processamento da erva-mate era realizado de maneira artesanal, seguindo métodos indígenas. As folhas eram cortadas, sapecadas (chamuscadas) e secas, podendo ser utilizadas duas técnicas principais:

  • Carijo: processo rústico, no qual as folhas secam sobre um estrado de madeira posicionado sobre um braseiro.
  • Barbaquá: método mais moderno, em que as folhas secam com calor transportado por um túnel de alvenaria, sem contato direto com a fumaça.

Após a secagem, a erva passa pelo cancheamento (picotamento) e separação das folhas antes de chegar ao consumidor.

História e disseminação

Acredita-se que os guaranis do nordeste da Argentina foram os primeiros a consumir a erva-mate. No século XVI, os espanhóis aprenderam com os indígenas e espalharam o hábito pelo Vice-Reino do Rio da Prata. Durante esse período, a erva chegou a ser proibida no sul do Brasil, sendo considerada “erva do diabo” por missionários jesuítas. No entanto, no século XVII, os próprios jesuítas passaram a incentivar seu consumo entre os indígenas como alternativa ao álcool.

Registros históricos indicam que, por volta de 1690, o jesuíta austríaco Anton Sepp observou o consumo da erva entre os indígenas da Banda dos Charruas, descrevendo seu uso tanto em folhas quanto moída em pó.

No século XIX, o Paraguai proibiu a exportação de erva-mate, levando Argentina e Uruguai a buscarem novas fontes no Brasil. Isso impulsionou o cultivo e a industrialização da planta nos estados de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. No Paraná, a erva-mate chegou a representar 85% da economia local, desempenhando papel fundamental na emancipação do estado em relação a São Paulo.

Tradição e cultura

O viajante alemão Roberto Avé-Lallemant descreveu, em 1858, a importância do mate na cultura sul-americana:

“O mate é a saudação da chegada, o símbolo da hospitalidade, o sinal da reconciliação. Tudo o que em nossa civilização se compreende como amor, amizade, estima e sacrifício está entrelaçado com o ato de preparar o mate, servi-lo e tomá-lo em comum.”

Hoje, a erva-mate segue sendo um elemento cultural essencial na identidade do sul do Brasil e de outros países da América do Sul, mantendo suas raízes históricas e sua relevância econômica.

A lenda da erva-mate

Segundo a tradição guarani, um velho indígena e sua filha Yaríi acolheram um visitante misterioso, que, em retribuição à hospitalidade, fez brotar uma nova planta na selva. Nomeada em homenagem à jovem e protegida por seu pai, Cáa Yaráa, a erva-mate foi ensinada aos indígenas como uma dádiva divina para compartilhar com os viajantes e aliviar a solidão. Desde então, suas folhas e galhos são usados no preparo do mate, símbolo de união e hospitalidade.

Assim, a erva-mate se tornou um presente sagrado, enraizado na cultura e na tradição dos povos sul-americanos e principalmente, dos gaúchos!

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