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A Sagrada Escritura: inspiração divina para a humanidade

Pe. Ari Antonio dos Reis

A tradição cristã se fundamenta na Palavra de Deus. Este fundamento é tão significativo que um dos critérios que embasam o diálogo ecumênico é a convicção de que as denominações religiosas articulam a sua missão e o culto a partir da Palavra de Deus. É alvissareiro ter presente que, apesar das dificuldades históricas do caminho, temos o Verbo divino inspirando o apostolado e o diálogo entre os cristãos. A Igreja Católica, como Igreja de Cristo funda-se sobre a Palavra de Deus, nasce e vive dela (cf. VD 3) e como mãe amorosa sugere este caminho para seus filhos diletos.

A inspiração da Palavra de Deus leva o cristão a compreender a sua lógica e, a partir disso, acolher e viver de forma mais precisa o mandamento divino. A Constituição Dogmática Dei Verbum (1965), que trata da Revelação divina, afirma a importância da Sagrada Escritura, junto com a Tradição, como caminhos viáveis e seguros para transmitir o que Deus no seu amor e bondade quis revelar à humanidade. Dá condições para que o tesouro da revelação encha os corações humanos e os conduza à vida plena.

Por Revelação compreende-se a vontade do Pai de estabelecer um vínculo profundo e eterno com a humanidade em vista da sua salvação: “pela revelação divina quis Deus manifestar e comunicar-se a Si mesmo e os decretos eternos da Sua vontade a respeito da salvação dos homens, para os fazer participar dos bens divinos” (DV 6).

A vontade salvadora divina encontra na Tradição e Escritura o canal da sua transmissão com a finalidade da salvação humana. Elas têm uma mesma finalidade: “a Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a sagrada Tradição, por sua vez, transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, para que eles, com a luz do Espírito de verdade, a conservem, a exponham e a difundam fielmente na sua pregação; donde resulta assim que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência” (DV 9).

Ao ler, refletir, rezar e agir fundado na Sagrada Escritura, o cristão individualmente, em comunhão com sua comunidade de fé, está acolhendo a vontade de Deus ali expressa. Esta tem o acento no amor sem limites.

É a Palavra de Deus dirigida amorosamente ao ser humano que tem fé: na Sagrada Escritura manifesta-se a admirável condescendência da eterna sabedoria, para que o ser humano possa conhecer a inefável bondade de Deus e com quanta acomodação de linguagem Ele falou, tomando providência e cuidado com a nossa natureza (cf. DV 13). Ou seja, Ele escolheu o caminho humano e uma forma compreensível para o ser humano para dar-se a conhecer e revelar seu amor e desejo salvador. Trilhou o único caminho possível para o ser humano conhecê-lo e acolhê-lo. As palavras de Deus, expressas por línguas humanas, tornaram-se intimamente semelhantes à linguagem humana, como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens tomando a carne da fraqueza humana (cf. DV 13).

Deus fez uso da Sagrada Escritura para criar esta comunicação com a humanidade. Cada vez que ouvimos o texto bíblico estamos escutando Deus nos falando.  E a Palavra Sagrada carrega uma lógica própria a qual o ser humano é convidado a acolher. Os dois testamentos carregam uma unidade que permite ao ser humano compreender o processo salvador do qual é convidado a participar. Verdadeiramente, pela sua Sua Palavra, o próprio Deus inspira e conduz a humanidade no caminho da salvação.

É compromisso da humanidade, especialmente da Igreja, acolher este desígnio divino tendo-o como luz da sua vida e atividade evangelizadora porque compreende que: “nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e são tão grandes a força e a virtude da palavra de Deus que se tornam o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual” (cf. DV 23).

A veneração enseja o compromisso da Igreja a um processo, como pede o documento: É necessário, por isso, que todos os clérigos e sobretudo os sacerdotes de Cristo e outros que, como os diáconos e os catequistas, se consagram legitimamente ao ministério da palavra, mantenham um contato íntimo com as Escrituras, mediante a leitura assídua e o estudo apurado, a fim de que nenhum deles se torne pregador vão e superficial da palavra de Deus por não a ouvir de dentro (cf. DV 25). A escuta e estudo atentos da Palavra têm uma finalidade: “a obrigação de comunicar aos fiéis que lhes estão confiados as grandíssimas riquezas da palavra divina, sobretudo na Sagrada Liturgia” (DV 25).

Enquanto inspiração divina a Sagrada Escritura também sugere uma experiência de oração: lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração para que aconteça o diálogo entre Deus e o homem; porque a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculo (cf. DV 25).

Acolher, rezar, ensinar a Sagrada Escritura faz parte da identidade da Igreja. Ela verdadeiramente inspira a sua existência e a sua ação no mundo.

Pe. Ari Antonio dos Reis

 

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