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As loucuras de nosso tempo

As loucuras de nosso tempo

 

Repercuto nesta coluna semanal uma instigante e interessante reflexão
escrita pelo professor e doutor da UPF (Universidade de Passo Fundo) Altair
Fávero. Esta reflexão foi publicada no site www.neipies.com

Recomendo leitura!

***

“Reli
recentemente algumas partes do livro Elogio
da Loucura
do humanista Erasmo de Rotterdam. Destaquei como emblemático
para essa reflexão o seguinte trecho: “É a loucura que forma as cidades; graças
a ela é que subsistem os governos, a religião, os conselhos, os tribunais; e é
mesmo lícito asseverar que a vida humana não passa, afinal, de uma espécie de
divertimento da Loucura”.

 

 

Erasmo de Rotterdam (1469-1536) foi um dos grandes
renascentistas dos Países Baixos (atual Holanda) e ficou conhecido como o
príncipe dos humanistas europeus.  Em sua
obra Elogio da Loucura, escrita em
latim, Erasmo fez uma crítica satírica da sociedade da época, atacando
principalmente as deformações da Igreja Católica. Ao propor a renovação da
Igreja e a volta aos ideais simples e nobres dos primeiros cristãos, tornou-se
um representante do humanismo cristão e um dos grandes autores que promoveram o
renascimento cultural na Europa do século XVI.

 

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O termo humanismo é derivado do termo latino humanitas, que designa a educação do
homem enquanto considerado em sua condição propriamente humana. A autonomia do
ser humano é buscada pelos humanistas da Renascença por meio de uma volta à
Antiguidade, a seus modelos e a suas diretrizes pedagógicas.

 

As chamadas
“humanidades” (poética, retórica, história, ética e política) passam desse modo
a constituir, sob a inspiração dos antigos, a base de uma educação destinada a
preparar o homem para o exercício de sua liberdade. A liberdade, a tolerância
religiosa, a capacidade humana de atuar sobre o mundo, a convicção de que o
mundo natural é o reino do homem, são os fundamentos principais do humanismo
renascentista.

 

 

A vida de Erasmo foi marcada por muitos percalços: apesar
de ter convivido num ambiente onde se respirava a atmosfera humanística que
imperava na Renascença, depois da morte dos pais foi enviado para receber uma
formação religiosa que cerceava sua liberdade. Mesmo quando mudou-se para
Paris, no Colégio Montaigu, para obter o título de doutor em Teologia, não
conseguiu suportar a “prisão espiritual” que o afligia ao ponto de adoecer. Ao
libertar-se das amarras eclesiais, passou a condição de escritor e mestre,
viajando para muitas cidades e atraindo diversos alunos ricos que tinham
condições de pagar por seus ensinamentos.

 

Na obra Elogio
da Loucura
, Erasmo faz a Loucura subir ao púlpito e de lá pronunciar uma
crítica impiedosa aos juristas, aos filósofos escolásticos, aos nobres
arrogantes, aos bispos luxuriosos, aos negociantes sórdidos e estúpidos, aos
militares que julgavam ser suficiente atirar uma moeda numa bandeja para
adquirir a indulgência que os deixaria puros e limpos como quando nasceram.

 

Elogio da
Loucura
foi uma das obras que mais abalaram seu tempo, funcionando como um
verdadeiro panfleto revolucionário. Em pouco tempo tornou-se uma das obras mais
consumidas por aqueles que voltavam de Roma indignados com os desregramentos
dos papas e cardeais que viviam uma vida luxuosa numa visível contradição com
os preceitos do cristianismo original.

 

Se Erasmo de Rotterdam vivesse nos dias de hoje e
visitasse nosso país, certamente iria escrever Elogio da Loucura II para
satirizar a forma como estão sendo conduzidas as decisões fundamentais da vida
de todos nós.  Não faltariam elementos
para denunciar a forma perversa com que “os representantes do povo” articulam
para se autobeneficiar de maneira sórdida do dinheiro público.

 

A sátira se tornaria uma contundente denúncia a forma
como certas religiões se apoderaram da ingenuidade do povo para promover o
enriquecimento ilícito de “falsos pregadores”. Juízes, ministros, governadores,
deputados, senadores, prefeitos, vereadores, empresários, policiais,
professores, médicos, jogadores de futebol, celebridades e tantos outros
estariam retratados nas distintas cenas que compõem as loucuras de nossa
tempo”.

 

Autor: Dr. Altair Alberto Fáveroaltairfavero@gmail.com

Professor e Pesquisador do
Mestrado e Doutorado do PPGEDU/UPF

 

FONTE: https://www.neipies.com/as-loucuras-de-nosso-tempo/

 

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