A estiagem severa que acomete cidades em todas as regiões do Rio Grande do Sul levou a Prefeitura de Bagé a decretar, na última sexta-feira (28), medidas emergenciais para conter o desperdício de água e preservar os reservatórios. O Decreto Municipal nº 51/2025, assinado pelo prefeito Luiz Fernando Mainardi (PT) impõe restrições ao uso da água potável na zona urbana e rural, enquanto a situação hídrica segue sendo monitorada.
Entre as principais restrições determinadas pelo documento, estão a proibição do uso de água da rede pública para lavagem de veículos, calçadas, fachadas e pátios, além da irrigação de gramados e reposição de piscinas. O decreto também estabelece que postos de lavagem não poderão utilizar água potável para suas atividades.
Segundo o Departamento de Água, Arroios e Esgoto de Bagé (Daeb), quem descumprir as normas poderá ser penalizado com advertências, multas e, em casos de reincidência, até o corte temporário do fornecimento. A multa será equivalente a quatro vezes o valor da fatura mensal do infrator. Para evitar desperdício, a população pode denunciar irregularidades pelos telefones (55) 3240-7800 e 115.
O documento assinado por Mainardi também autoriza o Daeb a adotar um racionamento de água, caso os níveis dos reservatórios continuem baixando. Ainda não há uma data para o início dessa medida, mas uma alternativa inicial poderá ser a interrupção do abastecimento durante a madrugada. Um rodízio mais amplo, com cortes de 12 horas, não está descartado, mas só será implementado se houver necessidade, informou o Daeb por meio de suas redes sociais.
O departamento também informou que a Sanga Rasa, principal reservatório da cidade, está 3,70 m abaixo do normal. Já a barragem do Piraí está com 2 metros negativos. Em janeiro, as chuvas na cidade ficaram muito abaixo da média. Na Estação de Tratamento de Água (ETA) foram registrados apenas 34,2 milímetros de precipitação, enquanto que a média histórica é de 143,9 milímetros. Já em fevereiro foram registrados 93,9 milímetros, pouco acima da média, que é 89,9 milímetros. O período também foi marcado por duas ondas de calor extremo, o que agravou os prejuízos na produção agropecuária. As perdas foram estimadas em R$ 77,26 milhões, sendo R$ 70,2 milhões na cultura da soja e R$ 7 milhões na bovinocultura de leite e de corte.
A situação de emergência devido à estiagem já havia sido decretada por Mainadi no início do mês, em um esforço para agilizar a busca por recursos estaduais e federais. A medida reconhece os impactos da seca na economia e na rotina da população.
Além das perdas no campo, a estiagem afetou diretamente o abastecimento de água. O Daeb registrou que, entre 1º de novembro e 11 de fevereiro, 3.160 pessoas na área urbana e 266 moradores da zona rural precisaram ser atendidos com caminhões-pipa, demonstrando a gravidade da crise hídrica.
Outra medida considerada fundamental para a resolução dos problemas de abastecimento hídrico em Bagé, a construção da Barragem de Arvorezinha, iniciada há 17 anos, está ainda longe da conclusão. Em entrevista ao Jornal do Comércio, o presidente do Comitê Gestor da Barragem, Cézar Augusto Gomes Scalcon, estima que até o fim do ano a obra alcance até 40% de execução, com finalização esperada para 2028.
Enquanto isso, a orientação é para que a comunidade utilize a água com responsabilidade, priorizando consumo e higiene. A expectativa das autoridades é que a conscientização e as restrições impostas pelo decreto ajudem a minimizar os impactos da estiagem até que a situação volte à normalidade.
Fonte: Jornal do Comércio