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Bolsonaro admite ter discutido golpe, mas afirma ter descartado logo de cara Ex-presidente relatou à Folha ter discutido estado de sítio, estado de defesa, artigo 142, e intervenção com alta cúpula das Forças Armadas, mas que “foi descartado logo de cara”

Foto: Sergio Lima/AFP

Réu por suposta tentativa de golpe de EstadoJair Bolsonaro (PL) admite ter debatido possibilidade de golpe com alto escalão das Forças Armadas. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ex-presidente da República relata ter conversado sobre estado de sítio, estado de defesa, artigo 142, e intervenção. Quando questionado sobre ruptura democrática, afirma ter descartado diante do contexto desfavorável.

“Eu não esperava o resultado [das eleições de 2022]. Nós entramos com a petição e, no dia seguinte, o senhor Alexandre Moraes (à época presidente do Tribunal Superior Eleitoral) mandou arquivar e nos deu uma multa de R$ 22 milhões. Se a gente recorresse, podia passar para R$ 200 milhões. Se eu não vou recorrer à Justiça Eleitoral, pode ir para onde? Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, (estado de) sítio, (estado de) defesa, (artigo) 142, intervenção…”, relata.

Questionado se discutir com os militares uma alternativa para impedir a posse do então presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não seria uma tentativa de golpe de Estado, Bolsonaro diz ter descartado prontamente a possibilidade. “Golpe não tem Constituição. Um golpe, a história nos mostra, você não resolve em meses. Anos. E, para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está a imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O “after day“, como é que fica? Então foi descartado logo de cara”, declarou.

O ex-presidente conta também ter se reunido mais de uma vez com chefes do Exército, Marinha e Aeronáutica, após ter sido pego de surpresa por derrota eleitoral. “É, não foi decisão. Reuni duas vezes com os comandantes militares, com umas outras pessoas perdidas por ali. Mas nada com muita profundidade, porque quando você perde a eleição, você fica um peixe fora d’água. Metade do seu ministério, você tem que tomar cuidado para conversar com os caras, né? E também eles querem voltar à normalidade da vida deles, você não pode botar pressão em cima deles. E daí, no depoimento do comandante do Exército, ele fala que foi discutida possibilidade de dispositivos constitucionais. Qual o problema? Nenhum. O PGR falou de estado de defesa ou sítio. Primeiro passo é convocar os conselhos da República e da Defesa. Isso não foi convocado, não houve nem cogitação de nada.”

Bolsonaro também foi questionado acerca das motivações que o levaram a debater “alternativas” à posse de um presidente eleito e respondeu que confia nas Forças Armadas, “tem que discutir com várias pessoas. Eu tenho muita confiança nos militares. Não tem problema nenhum conversar. Conversa primeiro com o ministro da Defesa. Depois, na segunda reunião que apareceu os caras lá. Existe algo fundamentado, concretamente, para gente buscar uma alternativa? Chegou à conclusão que, mesmo que tivesse, não vai prosseguir. Então esquece”, contou.

Para ele, debater “alternativas” à posse de Lula não configura tentativa de golpe e diz ter se baseado na Constituição Federal. “É uma história contada por aquela parte da Polícia Federal vinculada ao senhor Alexandre de Moraes. Aqui [Constituição] é a minha Bíblia. Tenho um problema, recorro a isso aqui. Agora, se não se pode falar estado defesa, de sítio, se revoga isso aqui. Pronto. Agora, não pode quando alguém fala sobre esse assunto e outra pessoa tem opinião contrária, passa a ser golpe.”

Bolsonaro ainda disse não estar arrependido por não ter reconhecido de forma contundente o resultado das urnas, afirmou que não esperava estar incluído no PL da Anistia e que uma possível prisão significaria o fim da sua vida: “Eu já estou com 70 anos.”

Correio do Povo

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