A Califórnia da Canção Nativa é um dos principais eventos musicais do Rio Grande do Sul e do Brasil. Criada em 1971 na cidade de Uruguaiana, fronteira oeste do Estado, a iniciativa nasceu em meio ao regime militar, com o objetivo de valorizar a cultura regional gaúcha e promover a música nativa. Desde então, tornou-se referência nacional em festivais de música, sendo reconhecida como patrimônio cultural do Estado.
O festival ocorre em diversas etapas ao longo do ano, com provas eliminatórias espalhadas por várias cidades gaúchas. Após uma rigorosa triagem de mais de 500 músicas, os finalistas se apresentam em Uruguaiana, onde concorrem ao prêmio máximo: a Calhandra de Ouro. O evento atraiu, ao longo das décadas, grandes públicos, chegando a reunir mais de 60 mil pessoas em algumas edições.
O nome “Califórnia” tem origem curiosa e simbólica. A palavra remete às “Califórnias do Chico Pedro”, célebres no século XIX no RS. A expressão foi incorporada ao vocabulário gaúcho como sinônimo de disputa entre cavalos, conforme descrito no Dicionário de Regionalismos do RS, e acabou adotada pelo festival por representar também uma competição entre artistas.
A importância da Califórnia vai além da música. Durante a Ditadura Militar, o festival se tornou palco de manifestações políticas. Um exemplo marcante foi em 1975, quando Leopoldo Rassier interpretou a música Tema de Marcação, uma crítica velada ao regime, mesclando simbolismos de Sepé Tiaraju e Che Guevara. Muitos artistas ligados ao Movimento Tradicionalista Gaúcho utilizavam o festival para expressar resistência e lutar pela liberdade por meio da arte.
Entre os grandes nomes que marcaram o evento, está Telmo de Lima Freitas, vencedor de 1979 com a música Esquilador. Outro nome lendário da Califórnia é César Passarinho, que venceu o festival quatro vezes, um recorde até hoje. Com sua voz potente e interpretações marcantes, imortalizou canções como Desgarrados, Orelhano e O Cavalo Crioulo, tornando-se símbolo do festival e referência na música nativista gaúcha.
A 10ª edição do festival, em 1980, foi um marco importante na trajetória da Califórnia. Realizada com grande repercussão, contou com músicas consagradas como Veterano, Semeadura e Romance na Tafona, vencedoras nas principais linhas temáticas da competição. Um diferencial dessa edição foi a entrega de um carro como parte da premiação, o que evidenciava o prestígio já conquistado pelo festival. A diversidade artística e a força das composições tornaram a 10ª edição uma das mais emblemáticas da história do evento.
Hoje, a Califórnia da Canção Nativa segue como símbolo de resistência cultural e valorização da identidade gaúcha, sendo um dos maiores eventos de música nativista da América Latina.