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Dia da Consciência Negra

Hoje, 19 de novembro, é assinalada uma data significativa para o povo brasileiro, especialmente para a população afrodescendente. É o dia da Consciência Negra, data sugerida em memória do martírio de Zumbi dos Palmares (1695), considerado o grande líder do Quilombo dos Palmares, reduto de resistência dos negros que fugiam da escravidão no seu período mais duro.

A demarcação dessa data, feriado em alguns lugares do Brasil, não foi processo fácil. É resultado de muita luta e articulação dos militantes negros, sobretudo em um país que tende a esquecer o longo tempo de escravidão e suas graves consequência na vida dos afro-brasileiros, expressas nas tantas pesquisas sobre a situação de vida do povo negro.

Para ilustrar sugiro dois recortes: primeiro, os negros continuam sendo as grandes vítimas das situações de violência, especialmente no tocante à morte de jovens; segundo, nos dados sobre a fome o número de negros em situação de insegurança alimentar, quando não se tem a garantia de uma alimentação segura e saudável, é maioria. Poderia se afirmar como contraponto que a população afro-brasileira autodeclarada é maioria, o que justificaria os números negativos. Porém os números são escandalosos e fogem ao critério da maioria populacional. A disparidade é muito grande.

Então a memória do dia da Consciência Negra implica em dialogar com este contexto marcado por tantas dificuldades para o povo negro. No diálogo cabe demarcar, os elementos de reconhecimento dos frutos da militância e luta dos afro-brasileiros que têm favorecido a vida das crianças e juventude negra. Cito as políticas de ações afirmativas, o ensino da histórica e cultura africana e indígena nas escolas públicas, criação de leis que punem o racismo e a injúria racial. Também temos visto um número maior de negros presentes na televisão e imersões das redes sociais. Esta visibilidade exerce sobre as crianças e jovens um impulso valioso quanto à autoestima. Não terão uma existência envergonhada, mas orgulho da sua pertença étnica.

Por outro lado, é importante dar-se conta de que o racismo continua muito presente na sociedade brasileira. Faz parte das suas entranhas. Se expressa especialmente de duas formas, a saber: cada vez mais explícito e manifesto em atitudes públicas de pessoas que não escodem seu racismo e aversão aos negros, inclusive com palavras e ações de ódio e violência física. Esta forma explícita de racismo, manifestado muitas vezes de forma subjetiva está ligada ao racismo estrutural presente na sociedade e suas tantas instituições, por isso, estrutural. Tal forma é menos visível, mais velada, todavia ainda com grande grau de perniciosidade aos afro-brasileiros pelo fato de implicar nas garantias das condições de vida. O racismo estrutural é o impeditivo para que os negros vivam uma vida digna porque limita o acesso aos benefícios da sociedade e dita os padrões de comportamento de pessoas que estão no comando das instituições.

Lembremos que o racismo, mais do que palavras ofensivas, é um modo operativo social que, ao longo dos séculos demarca as relações sociais no Brasil, prática condenada pela Igreja como afirmaram os bispos reunidos em Aparecida: a Igreja denuncia a prática da discriminação e do racismo em suas diferentes expressões, pois ofende no mais profundo a dignidade humana criada à imagem e semelhança de Deus (DAp 533).

O dia de celebração também exige a continuidade da articulação dos afro-brasileiros. Tal articulação é urgente e necessária, porque as conquistas não surgem do nada ou de forma gratuita, mas como consequência de muito trabalho organizado.

Entre as necessidades pauta-se a denúncia da violência contra os negros, especialmente a juventude. Exige o aperfeiçoamento de metodologias que permitem explicitar a letalidade dos jovens negros como algo a ser combatido de forma inequívoca.

Outra pauta importante está na educação. Aqui lembra-se que vai além da presença na escola. As crianças, adolescentes e jovens negros merecem compreender os processos educacionais como importantes em suas vidas, sobretudo a partir de uma unidade educacional que os acolha e os faça sentirem-se bem.

Ainda é importante lutar pelas políticas de ações afirmativas. Elas sempre existiram no Brasil e não beneficiavam o povo negro. As que existem devem continuar com certo aperfeiçoamento e também cabe pensar outras. Não são esmola, mas reparação e reconhecimento de que esta pátria deve muito ao povo negro, fato reconhecido pela Igreja em sua missão: sua missão de advogada da justiça e dos pobres, a Igreja se faz solidária aos afro-americanos nas reivindicações pela defesa de seus territórios, na afirmação de seus direitos, na cidadania, nos projetos próprios de desenvolvimento e consciência de negritude (DAp 533).

O dia 20 de novembro, data da consciência negra, é voltado à celebração e também ao reforço das articulações pois ainda se tem um longo caminho a percorrer para que este país seja a democracia racial propalada no passado.

Pe. Ari Antonio dos Reis

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