Está se aproximando a Celebração de Ramos que, liturgicamente, demarca a etapa final da caminhada quaresmal e cronologicamente assinala a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém, onde viveu os últimos momentos, tensos e intensos, da sua peregrinação pela Palestina.
A Igreja faz memória desta data pela sua importância teológica e litúrgica. Os evangelistas sinóticos, Mateus, Marcos e Lucas descrevem a entrada de Jesus em Jerusalém nos capítulos finais dos textos como introdução aos momentos marcantes da vida do salvador, a saber, a ceia pascal com o discipulado, a noite de agonia seguida da prisão, o julgamento seguido do caminho do calvário e a morte de cruz. Finalizando os textos descrevem a ressurreição e o diálogo com os seguidores, motivando-os a continuar a sua obra (Mt 28, 16-20; Mc 16; Mc 16,15-16; Lc 24,46-48).
Segundo os evangelistas, depois do grande itinerário missionário iniciado na Galileia, o filho de Deus entrou em Jerusalém para confrontar a proposta do Reino com os poderes antireino situados na cidade e nos arredores do templo. Jerusalém havia deixado de ser a cidades das promessas escatológicas do profeta Isaias (Is 52,7-10), para transformar-se em uma cidade marcada pela contradição fez-se a cidade de Deus e a cidade sem fé, a cidade da esperança e a cidade da opressão, a cidade da alegria e a cidade da dor (cf. A última semana. Marc Borg e John Crossan). Era a cidade sagrada, contudo marcada por grandes contradições. O evangelista Mateus descreve seu lamento diante da cidade que não acolheu a boa nova do evangelho: Jerusalém, Jerusalém que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes quis reunir seus filhos, como a galinha reúne os pintinhos debaixo de suas asas, mas você não quis (Mt 23,37). Era o lamento do Filho de Deus diante de um projeto aparentemente fracassado que culminou com à crucificação.
A entrada de Jesus em Jerusalém marca o momento alto da sua missão. Ele entrou na cidade pelo Monte das Oliveiras, caminho costumeiro dos peregrinos vindos de Jericó. Passou por dois povoados Betânia e Betfagé, lugares importantes que o acolheram nos momentos de maior tensão na capital, para onde fugia para preservar sua vida. A entrada de Jesus na cidade coincide com o cortejo de Pilatos que chegava à cidade, por outro lado, para a Festa da Páscoa, não por devoção religiosa, mas para mostrar o poder do Império Romano, disposto a dispersar qualquer rebelião. O filho de Deus e Pilatos se encontrariam dias depois por ocasião do julgamento que levou Jesus a crucificação.
Merecem atenção algumas situações descritas no texto. Primeiro: Jesus entra cidade montado em um jumentinho, um animal de serviço, montaria dos pobres. Tinha como proteção apenas alguns mantos. O manto era a vestimenta do pobre, também a sua cama, sua mesa. Do outro lado da cidade Pilatos e o exército chegaram montados em cavalos vistosos, armado para uma batalha, para impor o poder romano. Jesus entrou na cidade de forma humilde, para continuar fazendo o bem. Ele não veio ali para matar, roubar ou saquear. Chegou basicamente para servir. Ele é o Messias que serve e não um messias que busca o poder mundano como pensavam os filhos de Zebedeu (Mt 20,20-22). Em segundo lugar vê-se a multidão acolhendo Jesus estendendo seus mantos no caminho. Outros cortavam ramos e os espalhavam pelo caminho (Mt 21,8). Todos gritavam hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor. O grito não é de louvor, mas de súplica. Diziam: salva-nos por favor. Viam em Jesus a possibilidade da salvação, uma vida melhor, mais digna. Por fim está a reação da cidade, aqui compreendida como os que temiam Jesus, os seus adversários. Pediram para Jesus repreender os discípulos. Se para o povo a chegada de Jesus era uma boa notícia, para eles não era. Temiam que a presença de Jesus potencializasse a intervenção romana e também rejeitavam o messianismo de Jesus como expressaram na placa colocada na cruz.
Domingo faremos a memória litúrgica desse momento marcante na vida de Jesus. Estejamos atentos ao seu sentido profundo. A posse dos ramos deverá ir além de um ato devocional, mas o compromisso com tudo o que o Filho de Deus nos propõe.