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Maria: peregrina na terra e peregrina no céu Eis aqui a serva do Senhor (Lc 1,38)

Pe. Ari Antonio dos Reis

Celebramos neste domingo, em comunhão com o ano jubilar, a Solenidade da Assunção de Maria ao céu. Segundo a tradição, a filha de Deus foi elevada ao céu a partir da sua peregrinação na terra totalmente disponível para realizar a obra de Deus. Neste sentido Maria é um testemunho de peregrina de esperança para os cristãos, especialmente para os consagrados e consagradas que rezam a sua vocação. É uma peregrina entre a humanidade chamada a continuar a sua jornada no céu. Ela foi “assunta” ao céu. A expressão “assunção” tem um primeiro significado no ato de assumir uma responsabilidade, dar conta de um compromisso. Aqui tem um acento na vida cotidiana. Outro significado diz respeito mais a nosso ato de fé: acreditamos que Maria, por seus méritos, foi elevada, em corpo e alma, ao céu, foi assunta ao céu. Aqui está a localização da solenidade que celebramos neste domingo assinalada no dia 15 de agosto, mas no Brasil por questões pastorais é transferida para o domingo posterior.   No dia 1º de novembro de 1950, o Papa Pio XII, pela Constituição Apostólica Munificentissimus Deus (Deus munificentíssimo), proclamou o dogma da assunção de Nossa Senhora ao céu em corpo e alma. É o reconhecimento do que já era comum no meio do povo e acolhido na fé popular, reconhecido oficialmente pela Igreja e incorporado doutrinariamente.

A Sagrada Escritura ajuda a compreender a peregrinação de Maria, segundo a sua entrega a Deus, que permitiu viver o sim em diferentes momentos da sua trajetória como peregrina de esperança iniciando com o sim dado ao anjo Gabriel, segundado da visita à prima Isabel, ocasião em que cantou o louvor agradecido ao Senhor, parte do Evangelho proposto para o Domingo da Assunção (Lc 1,39-56).

O texto começa com a peregrinação de Maria pela região montanhosa, quando se dirigia a uma cidade da Judeia com o objetivo de visitar a prima Isabel (Lc 1,39). No texto anterior Maria recebera a visita do anjo Gabriel que anunciara a sua gravidez por meio da ação do Espírito Santo e por meio dele também soubera da notícia da gravidez de sua prima (Lc 1,36). Possivelmente Maria carregava em seu coração, no caminho montanhoso, a alegria e a inquietude de que são próprios dos seres humanos diante de uma grande responsabilidade. A alegria por ser escolhida do Senhor, como o próprio anjo dissera: “alegra-te cheia de graça, o Senhor está com você” (Lc 1,28)! E a inquietude diz respeito à grandiosidade do projeto e às condições de Maria ao assumi-lo. Era uma jovem solteira, prometida em casamento ao carpinteiro José. Nestas condições ela peregrinou pelas montanhas ao encontro de sua prima Isabel. Ali, pelas palavras da prima idosa, teve a certeza da missão a ela reservada pela confiança do Senhor. Ele contou com Maria e conta com cada pessoa para realizar a sua obra.

A terceira parte do texto descreve o louvor de Maria. A jovem de Nazaré reza ao Senhor agradecendo a escolha. Deus havia olhado para ela e para o seu povo. Mas também havia reiterado a sua predileção pelos sofredores, assegurando um agir justo em benefício dos injustiçados e desvalidos. O texto termina afirmando que Maria permaneceu três meses na casa da prima, certamente prestando a solidariedade feminina a uma mulher idosa em estado avançado de gravidez.

O retorno para casa implicou na continuidade da sua peregrinação segundo o desígnio divino. A pessoa que acolhe a Palavra de Deus, que diz sim ao seu chamado, e lembramos neste domingo aos consagrados e consagradas, assume o compromisso de deixar-se guiar pelo desígnio de Deus. É uma atitude de abertura de coração e humildade. Implica em deixar Deus agir acima da sua vontade. Não é muito tranquilo. Em alguns momentos gera tensão e desconforto. Quando Maria disse “faça-se em mim segundo sua Palavra”, estava dizendo que a partir daquele momento passava valer a Palavra do Pai. E, verdadeiramente esta é que “pesa” na condução da peregrinação dos consagrados e consagradas; de todos os que dizem sim à vontade do Pai.

Maria, na sua peregrinação acolheu o verbo de Deus, aquele que se fez carne que fez a sua morada junto à humanidade (Jo1,14). Em algum momento compreendeu a necessidade da transição e assumir-se como discípula do seu Filho. Certamente não foi uma decisão pacífica, até porque dizia-se muitas coisas mentirosas sobre Jesus, inclusive de que estava fora do seu juízo (Mt 12,46-50). Como uma boa mãe ela foi ver o que acontecia. E lá compreendeu a necessidade deste passo fundamental, fazer discípula de Jesus, continuando a fazer a vontade do Pai. E ela fez-se discípula com os outros discípulos. A vida consagrada há de ter o acento do discipulado na perspectiva de se aprender com o Mestre de Nazaré. A peregrinação da vida consagrada em relação a Jesus se dá no crescente pessoal e num mergulhar na proposta de Jesus, sob a inspiração de Maria. Este peregrinar exige a disponibilidade mariana de ir ao encontro Dele para fazer-se discípulo Dele assumindo o caminho peregrino.

O terceiro momento da peregrinação de Maria deu-se aos pés da cruz. Este momento, relatado pelo Evangelista João (cf. Jo 19,25-27), foi marcado pela dor e pela coragem. Ela permaneceu ali e recebeu do Filho aliando-se ao seu sofrimento à maternidade de toda a humanidade. É difícil compreender compromisso vocacional sem cruz, sem responsabilidade com a cruz. As tentações de uma peregrinação vocacional sem cruz existem. Todavia serão também sem Jesus e sem a sua proposta. Assim como Maria ouçamos o pedido de Jesus, ouçamos e acolhamos as disposições para segui-Lo: renunciar a si mesmo, tomar a cruz e seguir seus passos (cf. Mt 16,24)

O último momento da peregrinação terrena de Maria narrado pelas Sagradas Escrituras se deu no período pós ressurreição. Lucas, que dedica especial atenção à mãe de Jesus, relata a sua presença junto à comunidade após a ressurreição. Dali o grupo saiu em missão para anunciar o ressuscitado. A vida consagrada tem a marca do anúncio. Segundo os diferentes carismas prega-se o Cristo vivo e ressuscitado enquanto homem que assumiu a cruz e a venceu. E testemunha-se Jesus Cristo. E neste peregrinar acolhe-se outras pessoas dispostas ao mesmo caminhar.

A peregrinação de Maria foi tão significativa para a humanidade que ela reconhecidamente mora nos corações das pessoas e se compreende que mereceu ascender ao céu em corpo e alma, fato assumido pela Igreja em 1950. Ela agora peregrina no céu intercedendo pelos seus.

Pe. Ari Antonio dos Reis

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