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O testemunho dos primeiros cristãos

O calendário litúrgico tem proposto neste tempo pascal a leitura do livro dos Atos dos Apóstolos, descrevendo a caminhada dos primeiros cristãos após os eventos crucificação-ressurreição de Jesus; o envio em missão e a recepção do Espírito Santo. Os evangelistas apresentam descrições diferenciadas dos fatos, todavia a estrutura histórica é a mesma. As diferenças estão no enfoque dado.

Destacamos Lucas que divide a sua obra em dois momentos. No evangelho ele trata da vida de Jesus e no livro dos Atos dos Apóstolos trata da vida e missão dos apóstolos de Jesus. Na introdução do segundo livro afirma: “no meu primeiro livro, prezado Teófilo, escrevi a respeito de tudo o que Jesus começou a fazer e ensinar até o que dia em foi levado para o céu (At 1,1). Depois narrou a missão recebida do mestre: vão receber a força do Espírito Santo que descerá sobre vocês. E serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria, e até os extremos da terra” (At 1,8).

Temos acolhido esta Palavra significativa que apresenta a missão recebida do Ressuscitado pelos apóstolos e levada adiante sob a inspiração do Espírito Santo. Assinalo algumas características destes tempos difíceis, porém de muito trabalho e espírito evangelizador que são referências para os cristãos de todos os tempos.

A primeira característica é o testemunho dado. João e Pedro disseram aos seus perseguidores: “não podemos deixar de testemunhar o que vimos e ouvimos (At 4,20). Este testemunho compreendido como transmissão com convicção foi fundamental para que outras pessoas aderissem à proposta cristã. E o testemunho é fundamental para a transmissão da fé cristã. Ele se expressa novamente na primeira carta de João assim descrito: “o que vimos e ouvimos vos anunciamos” (cf. 1Jo 1,3). A experiência da graça da fé que é transmitida motivando outras pessoas a livremente seguirem a fé cristã.

Os primeiros cristãos também eram pessoas destemidas. Não tinham medo das perseguições e adversidades, que eram muitas naquele tempo. As dificuldades e adversidades não eram impedimento para continuarem a missão evangelizadora segundo descreve Lucas: “os que tinham sido dispersados iam de um lugar para outro, anunciando a boa nova (At 8,4). As tentativas eram variadas porque havia a firme convicção de anunciar o evangelho de Jesus Cristo. Tinham consciência das tribulações mas acreditavam que a mão do Senhor estava com eles e as dificuldades não eram impedimento e não arrefeciam o espírito missionário (At 11,19-22). Maior que o medo era o compromisso e a fé no Ressuscitado.

Os homens e mulheres anunciadores do evangelho tinham grande confiança no Espírito Santo. João descreve o envio prometido por Jesus já no dia posterior à ressurreição (Jo 20,19). Lucas descreve como se fosse cinquenta dias após o grande fenômeno. Apesar da cronologia diferenciada foi o grande impulsionador da obra missionária (At 2,1-13) e invocado diante dos compromissos do anúncio do evangelho (At 6,5; 8,17; 13,2). Não estavam sozinhos porque a força do alto, prometida por Jesus acompanhava o itinerário missionário.

Os primeiros cristãos eram pessoas de profunda oração. Herdaram este princípio do próprio filho de Deus que os ensinou a rezar e reforçou a necessidade de rezarem sempre. Na continuidade da missão do Nazareno dedicavam muitos momentos à oração e exercitavam esta prática em diferentes situações. Tinham os mesmos sentimentos e perseveravam na oração (At 1,14); rezavam diante das decisões importantes como a escolha do sucessor de Judas (Ato 1,24); ou diante da escolha dos diáconos para cuidar da mesa das viúvas (At 6,6); rezavam como prática ordinária da vida comunitária (At 2,42). A oração era o grande impulso e força desses cristãos.

Assinalamos também a vida comunitária como marca do ser cristão e profundamente cultivada a partir dos primeiros cristãos. Não era um compromisso fácil. A vida comunitária era exigente, mas compreendida como uma necessidade para que a obra de Jesus fosse levada a outras pessoas. A comunidade tornava-se a referência para todos os inseridos no caminho cristão.

Os quatro evangelistas descrevem o envio feito por Jesus. Ele enviou seus seguidores em missão. A missão consistia na continuidade do seu projeto. Os primeiros anos da caminhada cristã tinham muito forte o acento missionário. E a missão era desenvolvida em nome da comunidade e enviada pela comunidade. A partir desse princípio compreende-se a missão como constitutiva da identidade da Igreja. Ela nasce com o testemunho daqueles homens e mulheres.

Certamente haveria outros acentos que nos ajudariam a compreender os princípios da vida cristã. Apresentou-se alguns. Eles ajudam-nos a mergulhar nesta bonita tradição da qual somos herdeiros. Eles continuaram com coragem, esperança e convicção a obra de Jesus de Nazaré.

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