A liturgia do 2º domingo doTempo Comum nos propõe o acontecimento das Bodas de Caná (Isaías 62,1-5, Salmo 95, 1 Coríntios 12,4-11 e João 2,1-11). Todos os textos ressaltam as maravilhosas transformações que acontecem originadas pela presença de Deus e a escuta da sua palavra. Jesus e seus discípulos são convidados para um casamento, no qual também está presente Maria. Segundo o evangelista São João, é o acontecimento que marca o início da vida pública de Jesus e seu primeiro milagre. A festa corria o risco de ser um fracasso por causa da falta do vinho. Jesus intervém, a partir do pedido de Maria, e a festa toma novo rumo quando a água é transformada em vinho. Começa a pairar no ar o perfume da novidade, da alegria e da abundância.
A partir do profeta Oséias o simbolismo da relação nupcial se tornou uma forma de descrever e aprofundar a relação Deus-homem. Muito usada na Escritura é a categoria “aliança”, mais política e diplomática. Porém, o simbolismo nupcial é mais íntimo e pessoal apontando que a relação e união estão fundamentadas no amor. É num contexto nupcial que Jesus inicia o ministério, dando-se a conhecer e como quer se relacionar com as pessoas.
“Este foi o início dos sinais de Jesus” e “seus discípulos creram nele”, testemunha São João. “O que gera a fé é uma palavra-gesto de Cristo que João chama de sinal, isto é uma seta apontada em direção a uma dimensão maior, a revelação do mistério de Cristo escondida sobre o evento milagroso: mais importante que o resultado clamoroso e sobre o gesto taumatúrgico, a atenção é postada sobre o efeito “teológico”, sobre o resultado da fé” (Cardeal Ravasi).
Está bem presente na mentalidade religiosa o desejo de milagres, mas o evangelista João ensina que os milagres relatados no Evangelho e todos os acontecidos na história devem ser vistos como setas que apontam para o mistério de Cristo. Mais importante que interrogar-se “como aconteceram” e sobre todos os detalhes do fato extraordinário, o fiel deve perguntar-se “que coisa isto significa” para mim e para a revelação de Deus. Nas Bodas de Caná não se revela tanto a potência de um ser superior, mas a alegria que o Messias veio trazer à terra. O apelo do milagre é penetrar mais profundamente no mistério de Deus.
A 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios aponta para o grande milagre dos múltiplos carismas que Deus concede à comunidade. Elenca três características essenciais dos dons para enriquecerem a Igreja: a unidade de origem, a pluralidade nas manifestações e a unidade na finalidade. Na diversidade de dons e na distribuição os carismas são plurais. Portanto, não se pode considerar que existe somente um carisma negando a multiplicidade e liberdade do Espírito Santo. Do mesmo modo, é destruidor a anarquia carismática porque na origem de todos os dons está um só Senhor. Cada membro da Igreja reflete o Espírito, não de forma isolada, mas na finalidade comum. “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum”.
Viver a unidade na diversidade de dons e carismas é um valor imenso. Isto também é um milagre. São Paulo usa três palavras para indicar como os dons agem: o carisma indica a gratuidade, o ministério a destinação comunitária e operação é a força para construir o Reino de Deus. Por fim, São Paulo afirma, que “o maior deles é o amor”. O amor é o modo como Deus salva humanidade, assim Jesus o manifestou nas Bodas de Caná.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo