Ópio vicia é uma droga. Futebol é alegria, diversão, emoção embora muitas pessoas percam a razão pelo futebol!
não julgo apropriado comparar com o ópio o futebol, que, longe de ser fumaça e ilusão, produz alegria verdadeira, emoção autêntica e pura, ainda que não dure, como tudo o mais da humana experiência. Ao menos ela é gratuita, igualitária e democrática, uma das únicas e raríssimas ocasiões para celebrar e alegrar-se que ilumina os olhos e aquece o coração da nossa gente humilde, do povo pobre e escuro que se dependura em árvores e se apinha nas ruas para aplaudir heróis saídos do seu meio, carne de sua carne.
O fascínio, a vibração da Copa têm explicação adicional. O mundo fora dos gramados, o dos bombardeios que massacram inocentes, das bombas que trucidam crianças e mulheres, dos muros e cercas que aprisionam os desesperados, esse mundo está a cada hora mais sinistro e ameaçador.
Quem se espantará de que as pessoas busquem um pouco de alegria no jogo?
Por falar em alegria, um dos comentários mais perceptivos que li foi o de Jacques Buob, no “Le Monde” de 2 de julho. “O que é bom com os brasileiros”, escreveu, “é que todo mundo fica contente quando eles ganham. Os próprios perdedores não lhes querem mal… Nenhuma equipe no mundo provoca tal empatia”. Após ensaiar várias explicações, conclui: “Será talvez essa filosofia do jogo, sua maneira cortês de conceber o futebol e essa alegria de viver que existe neles, um pouco infantil, e por isso sempre emocionante. Quando eles ganham, a gente se sente feliz com eles; quando perdem, choramos com eles”. O Brasil não poderia desejar elogio maior.
O “Financial Times” afirmou que o futebol brasileiro é exemplo isolado de algo que falta ao Brasil em outros domínios -uma indústria exportadora de sucesso. Demonstraria igualmente que a combinação de método, estratégia e disciplina com o instinto criativo natural pode produzir modelos de êxito, não só para o esporte mas para a economia do país.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ Rubens Ricupero, 65, é secretário-geral da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento), mas expressa seus pontos de vista em caráter pessoal. Foi ministro da Fazenda (governo Itamar Franco).