A Igreja celebra no dia 29 de junho a Solenidade de
São Pedro e São Paulo. No Brasil, por motivos pastorais, a celebração é
proposta para o domingo seguinte, portanto no dia 02 de julho. Os dois santos,
considerados colunas da Igreja deixaram para os cristãos um testemunho valioso
de vida de fé, seguimento e testemunho de Jesus. A importância é tamanha que o livro dos Atos
dos Apóstolos os têm como atores principais. A vida de ambos permite que se
faça várias abordagens em vista de perscrutar o que ensinam para a vida cristã
e para a Igreja. Opta-se por refletir três temas: o encontro com Jesus, o
discipulado e o testemunho.
A experiência de Pedro e Paulo com Jesus foi
diferenciada como atestam os Evangelhos, que traz referências a Pedro, e o
livro dos Atos dos Apóstolos, que traz referências a Pedro, Paulo e a
comunidade dos primeiros cristãos.
Pedro foi um dos primeiros discípulos
chamados (Mt 4,18; Mc 1,16-18; Lc 5, 8-11). Fez a experiência de estar com
Jesus acompanhando o cotidiano da missão, marcando presença nos principais
momentos da vida do Mestre (Mt 17, 1-2); assumindo o compromisso missionário
(Mt 10, 1-4; Mc 3, 13-15; Lc 6, 12-16); revelando suas fragilidades (Mt 16,
21-23; Mc 8,33); assumindo também um compromisso com a proposta de Jesus (Jo
6,68); sendo confirmado na missão pelo ressuscitado (Jo 21,19). Ele viveu muito
próximo de Jesus pela condição de discípulo, experimentando as tensões,
enfrentando suas ambiguidades, mas compreendendo a seriedade do trabalho
assumido. Após a experiência amarga da
cruz e a alegria da ressurreição, fortalecido pelo Espírito Santo, anunciava
Jesus com destemor (At 2,14; 3,6; 3,12-25; 10,34). Ele foi iniciado por Jesus.
Paulo não conviveu com Jesus. Por um bom
tempo era contrário à proposta Cristã e aos seguidores de Jesus (At 7, 58; 8,
1; 9,1). Entretanto, a sua conversão foi fruto de uma experiência com e
ressuscitado (At 9, 5-9) e mediada pela comunidade cristã (At 9,10). Não foi um
processo rápido, mas obedecendo alguns princípios permitindo que abrisse os
olhos pelo ensino (At 9,18); fosse batizado (At 9, 18-19a); assumisse a
condição de missionário (At 9.19b; 13;3). Se Pedro conviveu com Jesus, Paulo
por sua vez, conviveu com uma comunidade que testemunhou Jesus e o preparou
para a missão (At 9,17).
Antes do apostolado, que tem a ver
com a missão, Pedro e Paulo foram discípulos. Era tradição antiga uma pessoa considerada
liderança religiosa e em termos de saber, ter discípulos, seguidores que iam
bebendo do conhecimento da experiência vivida. João Batista o precursor tinha
discípulos (Mt 11,2; Jo 1,35). Jesus constituiu um grupo de doze discípulos
mais próximos (Mt 4,18-22; Mc 1,16-20; Lc 5,1-11) posteriormente outros setenta
e dois (Lc 10,1). Lucas escreve que algumas mulheres o acompanhavam como
discípulas (Lc 8,1-3).
Pedro foi integrante do grupo mais
próximo de Jesus e, em alguns momentos era o interlocutor de Jesus. Eles eram
tão importantes que Jesus dedicava a eles longo tempo para o ensino e este se
dava a partir das coisas da vida. O sermão da Montanha no evangelho de Mateus (Mt
5-7) e o Sermão da Planície do Evangelho de Lucas (Lc 6,20-46), são
estritamente ensinamentos transmitidos aos seus seguidores. O envio para a
missão os alçou à condição de apóstolos (Lc 91-6; Mt 10,5-15; Mc 6,7-13). Paulo
foi iniciado por uma comunidade. Ele é fruto de gente iniciada na fé cristã (At
9,10) e que o ajudou nesse mergulho. A profundidade do testemunho paulino
expresso nas diversas cartas revela como a sua iniciação foi significativa.
Por fim lembramos o testemunho. A
frase do livro dos Atos mostra como o testemunho foi importante para as
primeiras comunidades cristãs. Pressionados pelas autoridades, João e Pedro
afirmaram: “não podemos nos calar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20). Paulo, individualmente ou na companhia de
outros seguidores, assumiu com decisão o testemunho do evangelho como expressa
o texto a seguir. “Entraram na sinagoga dos judeus e falaram, de tal modo que
grande multidão de judeus e gregos acreditaram” (At 14,1; 19,8-10).
Em alguns momentos, mesmo correndo risco de
vida, não deixou de anunciar o evangelho (At 9, 23.29; 21,3-31). O testemunho
foi uma das características desses dois grandes homens e isto permitiu que as
sementes do evangelho fossem se espalhando pelo mundo todo.
A celebração da memória de Pedro e
Paulo lembra como Deus suscita pessoas diferenciadas para colaborar na sua
obra. Dá-lhes condições para fazerem uma experiência profunda com sua proposta
e também os acompanha na missão. O testemunho de Pedro e Paulo é um convite,
neste ano vocacional, a deixarmos o nosso coração arder e nos colocarmos a
caminho.
Os primeiros cristãos, nascidos na fé
pelo testemunho petrino e paulino, eram conhecidos como povo do caminho.
Sigamos esse caminho segundo a iluminação dos apóstolos, colunas da nossa
Igreja.
Pe. Ari Antonio dos Reis