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Pensar de acordo com Deus

O
Mês da Bíblia que iniciamos exorta para que a Palavra de Deus ocupe o lugar que
lhe é de direito na vida pessoal, na liturgia e na pastoral da Igreja. A
escolha deste mês tem como inspiração São Jerônimo que viveu de 340 a 420. Naquela
época, muitos cristãos de língua latina não conseguiam ter acesso a Bíblia por
causa da língua. Jerônimo foi residir em Belém e se empenhou para que toda
Sagrada Escritura pudesse ser lida em latim. Além de traduzir, escreveu muitos
comentários sobre a Sagrada Escritura que se conservam e contêm uma riqueza de
conteúdo com validade permanente.

O
Cardeal José Tolentino de Mendonça, especialista em estudos bíblicos, oferece
orientações muito sábias para nos aproximarmos da Palavra de Deus. Escreve na
introdução de sua obra A leitura
infinita: a Bíblia e a sua interpretação
.  “Por um lado, a Bíblia exerce uma atração
inesgotável. Por outro, essa atração mostra-nos rapidamente que precisamos de
uma iniciação ao mundo textual que ali está presente. Não basta lermos a
Bíblia: precisamos de uma hermenêutica, por mais simples ou complexa que seja.
A Palavra bíblica é uma janela, um espelho, uma fonte ou uma lâmpada, e em
todas essas modalidades é imprescindível não só a construção do caminho crente,
mas também a maturação cultural. Porém, não se acede a ela sem ativar uma
espécie de arte da leitura”.

Se
por um lado o texto bíblico atrai por aquilo que revela e ensina, por outro
lado exige o esforço do leitor. O leitor precisa situar a leitura bíblica no contexto
histórico onde foi escrito e na interpretação procurar ser fiel ao que foi
escrito. Em outras palavras, não é possível interpretar o texto simplesmente ao
gosto do leitor e nem fazê-lo dizer o que não está escrito.

Não
é possível dizer em poucas palavras o que é a Bíblia. São sugestivas as
analogias que o Cardeal faz: A Palavra bíblica é uma “janela” através da qual se
descortina um horizonte bem amplo. É um “espelho”, pois quando estamos diante
do espelho, vemo-nos refletido nele, isto é, o leitor começa a fazer parte da
cena bíblica. A Bíblia é “fonte” que nunca se esgota e para a qual se pode
voltar sempre e sempre terá novidade. É “lâmpada” pois a luz é essencial para
ter vida e para permitir os olhos verem.

O
Cardeal José Tolentino também alerta “que é inútil impor um programa de
compreensão, quando nos é pedido o contrário: que nos exponhamos ao texto, na
nossa fragilidade, a fim de receber dele, e à maneira dele, um eu mais vasto”. Para
orientar os fiéis na leitura bíblica, a Igreja distribuiu os textos bíblicos na
liturgia eucarística. Os textos bíblicos dos domingos estão organizados num
ciclo de três anos e os dos dias das semana em dois anos. Deste modo, o fiel ao
participar das celebrações eucarísticas terá contato com toda Escritura. Não
são lidos apenas os textos escolhidos pelo leitor, mas aqueles que lhe são
oferecidos, assim o leitor acolhe o que foi oferecido.

Neste
domingo os textos que Igreja nos oferece são Jeremias 20,7-9, Salmo 62, Romanos
12,1-2 e Mateus 16,21-27. Os leitores são convidados a se exporem a estes
textos e acolherem o que transmitem. Jesus anuncia que deve ir a Jerusalém onde
irá sofrer, ser morto e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro na tentativa de
proteger Jesus age ao modo humano, por isso lhe é dito: “não pensas de acordo
com Deus, mas de acordo com os homens”. 
Toda a Escritura tem por objetivo aperfeiçoar o modo de pensar e ser
para configurar o leitor ao modo divino. Diz a Carta aos Romanos: “Não vos
conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar
e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o
que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito”.

Dom
Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

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