Reproduzimos nesta coluna uma crônica da professora
municipal aposentada Marta Borba relatando os desafios da luta dos professores
e professoras na afirmação da dignidade docente e pelos direitos da categoria
em nossa cidade.
Ama-se a profissão, mas não há cartão-amor para
cumprir com as despesas básicas de sobrevivência.
“Dia 23
de Março de 2023. Dia de intenso calor. 10 horas. Em primeira chamada,
iniciara-se a Assembleia deliberativa da categoria de professores municipais da
cidade de Passo Fundo, norte do Rio Grande do Sul. Sul do Brasil.
O evento
não fora apenas um encontro reivindicatório da data base, índice de reposição
salarial, pedido de pagamento da lei do piso nacional dos professores, foi,
entretanto, um grito coletivo por respeito àqueles cuja amorosidade inerente à
profissão é confundida com saldo bancário.
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Sim, ama-se a profissão, mas não
há cartão-amor para cumprir com as despesas básicas de sobrevivência.
Assembleia
de professores da educação básica! Básica. Essa mesma educação que é bandeira
em toda eleição dos gestores públicos, do executivo, do legislativo…uma vez
eleitos, pouquíssimos lembram do que escreveram ou disseram nos palanques
eleitoreiros em defesa da escola pública e de seus principais agentes: os
professores. E toda data básica, professores vão de pires na mão pedir o
que lhes cabe por direito: O BÁSICO.
O que de
fato seria o básico para os educadores?
Além do
essencial para viver, muito precisa o educador para permanecer na sua
profissão. Primeiramente, o básico respeito.
O sentimento de colega aposentada
diante do desrespeito de quem muito contribuiu na formação básica dos cidadãos
desse chão: participar de assembleia na condição de aposentada, foi uma
experiência triste.
O olhar
marejava, o coração doía e o futuro…ah, para esse, as circunstâncias apontavam
-me que a alegria que espalhei, os afetos que conquistei, as horas que
trabalhei em casa pela minha profissão, os estudos que fiz, os projetos, os
quais participei…fizeram de mim, para os governantes, um número descartável, à
espera da lucrativa morte na folha de pagamento. Um desprezo triste,
humilhante, injusto e indigno.
Os
relatos de colegas sobre desrespeito da profissão foram impactantes. Doentes,
necessitam de atestado médico. Estão precarizando ainda mais o salário usando o
vale alimentação. Justamente porque o vale alimentação terá maior reposição do
que o salário base. Forma de castigo aliado à pedagogia de cabresto que se está
enfrentando.
Com mais
de trezentos professores presentes, ativos e inativos, a escuta “materializava”
a empatia e a sororidade.
A palavra
“soror” quer dizer irmã. Diante do relato de um irmão professor, interrompido
pelas lágrimas, várias vezes, a sororidade ficou uma palavra de dois gêneros.
Choramos. Todos: professor e professora.
Desse
choro veio a força encorajadora de dizer não à proposta salarial do patrão.
Todavia, somado a não aprovação do índice de reposição salarial que não
contempla o piso nacional, veio o grito de basta de desrespeito!
Ocorrera,
nesse dia, não mais uma assembleia, mas uma assembleia da coragem!
Talvez
não nos paguem o que nos devem. Talvez ainda o choro seja inevitável, porém a
sensibilidade de ser professora e professor é, e sempre será, munição para
lutar pelo básico, que é viver numa sociedade justa e fraterna.
Apesar
de…a luta continua!”.
Autora: Marta Borba, professora aposentada da rede
municipal de Passo Fundo.