A Igreja neste domingo celebra a Solenidade de Pentecostes. O Cristo ressuscitado “soprou sobre eles (discípulos) e disse: “Recebei o Espírito Santo” (Atos 2,1-11, Salmo 103, 1 Coríntios 12, 3-7.12-13, João 20,19-23). O livro de Gênesis diz que Senhor, após modelar o homem do pó do solo, “soprou-lhe nas narinas o sopro da vida; e o homem tornou-se um ser vivo” (2,7). Agora Jesus sopra sobre os discípulos dando-lhes um coração novo capaz de viver segundo as suas Palavras e, faz deles uma comunidade viva guiada pelo Espírito Santo. Ao dar o Espírito Santo para a comunidade origina-se um caminho novo, fecundo e à luz do Ressuscitado; um caminho de liberdade que se abre aos homens e aos povos de todas as etnias e todas as línguas, para formarem a família de Deus.
O Espírito Santo é a terceira pessoa da Santíssima Trindade. Espírito Santo é a alma da Igreja na história. Escreveu Inácio de Laodiceia: “Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo fica no passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja uma simples organização, a autoridade uma dominação, a missão uma propaganda, o culto uma invocação e o agir cristão uma moral de escravos. Mas com ele (Espírito Santo): o cosmos se eleva e geme em dores parto pelo Reino, o Cristo ressuscitado está presente, o Evangelho é potência de vida, a Igreja é comunhão trinitária, a autoridade é serviço libertador, a missão é Pentecostes, a liturgia é memorial e antecipação, o agir cristão é divinizado”.
São Paulo na primeira Carta aos Coríntios ensina como o Espírito Santo se manifesta em cada pessoa e na Igreja, através de dois meios: pelos carismas e pelos sacramentos. “Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. […] A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. […] fomos batizados no mesmo Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito”.
Como conciliar os dons pessoais e os sacramentos? O Espírito Santo sopra onde quer, como quer e quando quer. Ele é a livre manifestação de Deus que não está ligada nem a ritos, nem instituições particulares. Por outro lado, o Espírito Santo é dado através de gestos institucionais de Cristo confiados à mediação da Igreja. O dom pessoal e a mediação da Igreja têm por objetivo o “bem comum” e a utilidade de todos.
“Os carismas são dons dados aos indivíduos para enriquecer e santificar a Igreja; os sacramentos são dons dados à Igreja para enriquecer e santificar os indivíduos. Tem uma harmonia e uma reciprocidade perfeita entre os dois; rompê-la, num sentido ou noutro, significa empobrecer a Igreja e comprometer o seu admirável equilíbrio; significa cair ou no sacramentalismo, ou no espiritualismo vazio” (Cardeal Raniero Cantalamessa).
A Constituição Conciliar Lumen Gentium, sobre a Igreja, ciente dos dons pessoais e da valor da instituição ensina: “Além disso, o mesmo Espírito Santo não só santifica e conduz o povo de Deus através dos sacramentos e ministérios e os adorna com as virtudes, mas, “que distribui a cada um conforme quer” (1 Cor 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas das classes, tornando-os aptos e prontos a assumir várias obras e encargos, úteis para a renovação e maior incremento da Igreja. Estes carismas, quer sejam extraordinários, quer também mais simples e mais amplamente difundidos, devem ser recebidos com ação de graças e consolação por serem perfeitamente acomodados e úteis às necessidades da Igreja” (nº12).
Pedimos que Deus santifique e derrame os dons do Espírito Santo no coração dos fiíes e sobre todos os povos, para que se realizem as maravilhas do início da pregação do Evangelho.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo