Todos experimentamos os limites da mente e das palavras para tratar assuntos de grande relevância. Por vezes, preferimos nos acomodar ou nos calar, outras vezes polemizar ou fixar-nos em informações mínimas e defendê-las de forma irracional. Quando falamos de Deus – da Trindade Santa, Pai e Filho e Espírito Santo – percebemos que a nossa linguagem e o conhecimento são limitados. Mesmo assim, é necessário esforçar-se para entender e explicar o Mistério de Deus Uno e Trino revelado por Jesus Cristo. Podemos adentrar no mistério trinitário por causa ensinamentos de Jesus e da Sagrada Escritura. Com humildade, cautela e modéstia deve ser feito o caminho e cientes das limitações humanas. Por outro lado, a busca deve ser feita no louvor, como se reza: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio agora e sempre. Amém”
A Trindade divina começa a habitar em nós no dia do Batismo. “Eu te batizo – diz o ministro – em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. O nome de Deus, com o qual fomos batizados, será recordado todas as vezes que fazemos em nós o Sinal da Cruz. Com este gesto acompanhado das palavras anuncia-se a fé e se faz a oração em nome de Deus. Será no nome do Deus Trindade que se desenvolverá toda vida cristã até o momento da partida deste mundo em que o corpo será abençoado e entrega à mãe terra em Nome de quem foi batizado.
A liturgia da palavra da Solenidade da Santíssima Trindade oferece instrumentos privilegiados para mergulharmos no mistério trinitário (Provérbios 8,22-31; Salmo 8, Romanos 5,1-5 e João 16,12-15). O livro de Provérbios e o salmo são um hino de louvor à criação convidando para contemplar o Deus criador, fonte e origem de tudo. Quem é capaz de reconhecer a presença de Deus nas criaturas é o ser humano.
Na Carta aos Romanos São Paulo recorda que o homem, criado à imagem de Deus, perdeu a amizade com Ele pelo pecado, mas Deus não o abandonou ao poder da morte através de um grande plano de salvação. Plano que acontece através de Jesus Cristo pela encarnação, paixão, morte e ressurreição. As tribulações sofridas na paixão e morte resultaram em esperança; “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. No santo Evangelho Jesus fala do Espírito Santo. “Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. […] Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu”.
Assim como conhecemos uma pessoa por aquilo que faz, da mesma forma conhecemos Deus pelas suas obras. É melhor falar de Deus pela oração do que com a razão. A Oração Eucarística IV reza a História da Salvação. “Nós proclamamos vossa grandeza, Pai santo, a sabedoria e o amor com que fizestes todas as coisas. Criastes o ser humano à vossa imagem e lhe confiaste todo o universo para que, servindo somente a vós, o Criador, cuidasse de toda criatura. […] E de tal modo, Pai santo, amastes o mundo que, chegada a plenitude dos tempos, nos enviastes vosso próprio Filho para ser o nosso Salvador. […] E, a fim de não mais vivermos para nós, mas para ele, que nós morreu e ressuscitou, enviou de vós, ó Pai, como primeiro dom aos vossos fiéis, o Espírito santo, que continua sua obra no mundo para levar à plenitude toda a santificação”.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo