A liturgia dominical (Ezequiel 18,25-28, Salmo 24, Filipenses 2,1-11 e Mateus 21,28-32) revela a conduta fiel de Deus e a instabilidade e as contradições humanas. Jesus narra uma parábola onde um pai convida os dois filhos para trabalharem na vinha. O primeiro responde “não quero”, mas depois muda opinião e vai. O segundo responde prontamente “sim, eu vou”, mas não foi.
A mensagem da parábola é clara. As palavras são fundamentais, mas somente estas não são suficientes. É preciso transformar palavras em ações, em atos de conversão. Dizer “sim” sempre é perigoso, pois pode tornar-se um não e causar decepção a quem o sim foi dado. Quando se diz “não” fecha-se a questão, mas pode ser transformado em “sim” causando surpresa agradável. Como humanos vivemos nesta instabilidade. Por outro lado, dizer sim e não é uma necessidade fundamental na vida. Seguramente ninguém de nós pode garantir que será sempre e por toda vida fiel ao sim ou ao não dado. São Paulo com sereno realismo alerta: “Portanto, quem juga estar em pé, tome cuidado para não cair” (1 Cor 10,12).
A liturgia apresenta um terceiro filho, Jesus Cristo conforme a Carta aos Filipenses. Ele diz “sim” e cumpre-o ao extremo, até a morte. O hino cristológico canta: “Jesus Cristo, existindo em condição divina, não se fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz”. Em humildade e obediência cumpriu a vontade do Pai, morreu na cruz por seus irmãos e por nós. Diante deste sim fiel os joelhos se dobram e toda língua proclame: “Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”.
A vida cristã deve medir-se continuamente pela de Cristo: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Jesus Cristo”. São Paulo recorda uma das marcas fundamentais de Cristo foi a vivência da harmonia e da unidade. Cristo estava totalmente unido ao Pai e era-lhe obediente. Sua vida era fazer a vontade do Pai, ao ponto de oferecer-se na cruz. O exemplo de Jesus Cristo torna-se norma para seus discípulos de obedecer a Deus, de dizer-lhe sim e manter-se unidos entre si. A unidade permite superar os desafios que se apresentam na vida pessoal, nas comunidades da Igreja e na sociedade. A unidade é um sinal de amor num mundo competitivo e excludente.
São Paulo faz mais um apelo à humildade, inspirando-se no sim de Jesus Cristo. “Não façais nada por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada qual julgue que o outro é mais importante, e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro”. A vida cristã é uma existência para os outros, um compromisso humilde a favor do próximo e do bem comum. Cristo veio para salvar e servir o mundo, portanto se fez humilde para estar e viver a serviço dos humanos. A humildade é uma virtude que não goza de muita estima, mas os cristãos não podem deixar de cultivá-la, pois ela torna fecundos os diálogos, a colaboração cordial e unidade. A palavra humildade, de origem latina, remete a húmus, isto é, com aderência à terra, à realidade. As pessoas humildes vivem com os pés na terra, escutam a Cristo, se encantam com seu exemplo renovando-se constantemente. A humildade é uma virtude que auxilia a cumprir o sim dado.