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Vida eterna

Dom Rodolfo Luís Weber - Arcebispo de Passo Fundo

“Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?” A pergunta é dirigida por alguém que quer “pôr Jesus em dificuldade”. Mesmo que a intenção do mestre da Lei seja torpe, Jesus não perde a oportunidade para responder a esta pergunta essencial para o cristão (Deuteronômio 30,10-14, Salmo 68; Colossenses 1,15-20 e Lucas 10,25-37). 

A Bula de proclamação do Jubileu de 2025 recorda que o cristão vive ancorado na esperança da vida eterna. Ela indica a essência da vida cristã por apontar a direção e a finalidade de quem crê. “Creio na vida eterna: assim professa a nossa fé, e a esperança cristã encontra nessas palavras um ponto fundamental de apoio. De fato, “é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade (…) a vida eterna” (CIGC, n.1817). O Concílio Ecumênico Vaticano II afirma: “faltando o fundamento divino e a esperança da vida eterna, a dignidade do homem é prejudicada de modo gravíssimo, como muitas vezes se verifica hoje e os enigmas da vida e da morte, da culpa e da dor, continuam sem solução, de forma que, não raro, os homens são levados ao desespero” (GS, n.21). Dessa forma, em virtude da esperança na qual fomos salvos, vendo passar o tempo, temos a certeza de que a história da humanidade e de cada um de nós não correm para uma meta inalcançável nem para um abismo escuro, mas estão orientados para o encontro com o Senhor da glória” (n.19).

A fé cristã professa que a “herança da vida eterna” passa pelo juízo de Deus. O seu juízo é esperança porque é justiça e porque é graça. Se fosse somente graça tornaria irrelevante tudo o que é terreno. Se fosse pura justiça o juízo divino poderia ser para todos nós só motivo de temor. Na verdade, o juízo de Deus chama para a responsabilidade. Jesus, no evangelho em questão, diz duas vezes ao mestre da Lei: “Faze isto e viverás”. “Vai e faze a mesma coisa”. 

O que é amar? A quem amar? A resposta as questões é dada na extraordinária parábola do Bom Samaritano. Por ser parábola permanece sempre atual e sempre envolve existencialmente os leitores. O tema tratado entre Jesus e o mestre da Lei é dialógica mostrando que o tema é perfeitamente acessível aos humanos. O mestre, pelos estudos da Lei, era sabedor que o caminho que conduz à vida eterna era: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!” Isto já foi ensinado no Deuteronômio revelando que o amor é possível, não é um sonho, nem uma ilusão, nem um absurdo. Enfim é plenamente acessível aos humanos.

O amor revelado na parábola é subjetivo, dinâmico e teológico. É subjetivo porque envolve totalmente o sujeito: coração, alma, força e inteligência. É uma ação consciente exigindo um empenho radical. O amor é dinâmico por se exprimir em palavras e ações, conforme descreve a parábola: “aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: “Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais”. 

Por fim, o amor é teológico por nascer da sintonia com Deus. Assim como Deus amou o mundo a ponto enviar Jesus e dar a vida na cruz pela salvação da humanidade, do mesmo modo o amor humano é empenho pelo Reino de Deus. Isto é, comportando-se como Deus e obtendo a plena comunhão com Ele que se concretiza plenamente na vida eterna. Entendendo vida eterna não como espaço, mas presença e relação constante com Deus.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo

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