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Amar, guardar a Palavra, confiar no Espírito Santo! Se alguém me ama, guardará a minha palavra... (Jo 14,23)

Estamos fazendo a peregrinação jubilar no Tempo Litúrgico da Páscoa fundamentados no Evangelho de João. O texto foi escrito no final do primeiro século para as comunidades cristãs vindas do ambiente judaico, grupos de samaritanos, discípulos de João Batista e outros, vindos do paganismo, que aderiram à fé em Jesus Cristo.

O autor tinha como objetivo ajudar a comunidade viver e testemunhar a fé em Jesus Cristo, apesar das dificuldades e conflitos. Destacamos a tensão com o sistema social injusto que tanto preocupava aqueles cristãos, também o conflito com autoridades judaicas que perseguiam os cristãos e não aceitavam a adesão a Jesus. O autor também revela preocupação quanto ao seguimento de Jesus Cristo e a forma de como dar testemunho fiel, justamente pela gravidade e força das perseguições e a dissensão que semeavam na comunidade.

O texto refletido no 6º Domingo da Páscoa (Jo 14,24-29) está inserido pelo autor no discurso de despedida de Jesus, como bem descreve a expressão inicial: “naquele tempo, disse Jesus aos discípulos” (Jo 14,23). A fala de orientação inicia no capitulo 13 e vai até o capítulo 16 do Evangelho. No capítulo 17 Jesus faz uma bonita oração ofertando o grupo ao Pai e pedindo por aqueles que permaneciam no mundo dando continuidade à sua obra.

Seguindo o texto proposto para este domingo compreendemos que Jesus está oferecendo aos discípulos as coordenadas para que tenham condição de continuar a sua proposta sem a sua presença, visto que já havia afirmado a brevidade da sua estadia junto ao grupo (Go 13,33a). Estão entrelaçadas em algumas atitudes propostas pelo Filho de Deus: amar, guardar a Palavra, não se perturbar diante das dificuldades e confiar no Espírito Santo. Elas, assim se configuram na orientação de Jesus para aqueles que permaneceriam no mundo com a missão de dar continuidade ao trabalho de anunciadores da Boa-nova.

O grupo é convidado a amar Jesus como Ele mesmo os havia amado (Go 13,34). O ato de amor é o novo sugerido para o mundo. Ele faz este pedido a partir da sua iniciativa que foi de amar o grupo a Ele confiado pelo Pai e que posteriormente confia novamente ao Pai (Jo 17,1-26). Este amor se amplia na experiência da relação com o próximo, a grande novidade dada à humanidade, uma comunhão que jamais seria rompida pelas forças contrárias, porque na cruz e na ressurreição se plenificou o gesto de amor. As relações dos seguidores seriam permeadas pelo amor. O testemunho do discipulado seria o testemunho do amor, fundamentalmente amor.

O gesto de amor se configura em guardar a Palavra de Jesus. Pode parecer estranho este pedido feito pelo Mestre. O que significa guardar a sua Palavra? Compreendemos como o compromisso de observar e manter a proposta de Jesus, traduzida como a sua Palavra. Amar Jesus é comprometer-se a disseminar a sua proposta no mundo. Tal proposta não é somente de Jesus. É do Pai, que o enviara ao mundo para dar cumprimento ao seu plano de amor, como o próprio evangelista afirmara: “Deus amou tanto o mundo que enviou seu filho ao mundo para salvar o mundo” (cf. Jo 3,17). Os discípulos, ao cumprir o mandamento de Jesus, estariam cumprindo o mandamento do Pai, portanto habitação de Deus e da sua proposta, testemunhos vivos da sua vontade.

O grupo dos discípulos não estaria sozinho na missão. Jesus recorda a eles a ação do Espírito Santo, nomeado como Defensor, que tem como função ensinar e lembrar os fatos da História: “ele vos ensinará tudo e vos recordará o que vos tenho dito” (Jo 14 26).  Implica na memória atualizada para o discipulado, tendo presente a morte e ressurreição de Jesus, dos fatos da história. A salvação acontece na História. Delineia-se na história e conta com os acontecimentos da história. Aquela comunidade e todas as comunidades cristãs agiriam sob a ação do Espírito Santo discernindo nos caminhos da História, em meio às luzes e sombras, como agir e como manter a fidelidade à Palavra do Filho de Deus. Por isso, o compromisso de acolher o ensinamento e a lembrança vindos do Espírito.

Frente ao medo e insegurança dos discípulos pela eminente partida, Jesus deixa a paz. Não é a paz da acomodação, do sossego alienado ou a paz do mundo, mantida às custas da violência. É a paz de quem se compromete com uma proposta de amor e vida. Jesus também sugere a paz para os corações perturbados e inseguros dos discípulos pela sua partida. Eles deveriam ter a segurança da Palavra e a confiança no Espírito Santo para continuar a jornada do Mestre sem a sua presença física, todavia com a sua proposta na mente e no coração. Isto lhes daria a paz e a serenidade de quem fez a opção. Ele voltaria ao Pai, de onde veio como verbo encarnado o (Jo 1,14), para cumprir com a vontade de quem lhe enviara. Volta ao Pai não derrotado pela morte. Volta ressuscitado e glorificado, deixando aos seguidores a tarefa de dar continuidade a sua missão amando-o no mundo, guardando sua Palavra e agindo sob a força do Espírito Santo.

Jesus, ao dar continuidade à despedida dos seus, os orienta a partir daquilo que só Ele poderia dar, o amor, a Palavra e o Espírito Santo, suficientes para continuarem a sua obra.

 

Pe. Ari Antonio dos Reis

 

 

 

 

 

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