O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, se manifestou nesta segunda-feira (31) sobre a polêmica envolvendo a possível compra de uma aeronave a jato pelo governo do Estado, avaliada em aproximadamente R$ 95 milhões. Segundo Leite, a aquisição teria como principal objetivo atender demandas da saúde, como transporte de órgãos para transplantes, urgências médicas e deslocamento de equipes especializadas.
O governo estadual está analisando a compra de uma aeronave multifunção, seminova, que também poderia ser utilizada em operações da segurança pública, defesa civil e transporte de equipamentos médicos. A justificativa para a aquisição é a necessidade de maior agilidade no atendimento de emergências, especialmente em casos como os registrados durante as enchentes de maio de 2024, quando o Estado precisou buscar cilindros de oxigênio em outras regiões do país para suprir a demanda local.
A aeronave planejada teria autonomia de cerca de 3.500 quilômetros, velocidade de aproximadamente 860 km/h e capacidade para transportar de oito a onze pessoas. O equipamento seria adequado para o translado de pacientes de alta complexidade e o transporte de órgãos, além de permitir uma resposta mais rápida para ações da Brigada Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar e Instituto-Geral de Perícias. De acordo com o governo, a distância entre cidades gaúchas justifica a necessidade da aeronave, uma vez que, por exemplo, um voo de Porto Alegre a Uruguaiana é mais longo do que até Curitiba, dificultando o rápido deslocamento de equipes especializadas em casos críticos.
A proposta está sob análise da Secretaria da Reconstrução Gaúcha (Serg) e, caso seja aprovada, será feita uma licitação internacional. A escolha de um modelo seminovo se dá pela entrega mais rápida, estimada em até 360 dias, enquanto uma aeronave nova levaria até 24 meses para ser disponibilizada. O avião também viria equipado com o kit Medevac, homologado para transporte de pacientes em estado grave.
Apesar da justificativa do governo, a possibilidade da compra gerou repercussão negativa e um desgaste político para Eduardo Leite. O governador afirmou que sempre utilizou voos comerciais para seus deslocamentos e que prefere essa opção ao uso das aeronaves do Estado. Atualmente, o Rio Grande do Sul possui dois aviões turboélice para transporte oficial: um King Air bimotor e um Cessna Grand Caravan monomotor.
Leite destacou que, do total de horas de uso dessas aeronaves, menos de um quinto é destinado aos seus deslocamentos. Ele também rebateu críticas de que a compra do jato representaria um luxo para o governo estadual, alegando que o pedido partiu da Secretaria Estadual da Saúde (SES) e que não há definição sobre a aquisição nem sobre a fonte de financiamento. Uma das possibilidades consideradas é o uso de recursos do Fundo do Plano Rio Grande (Funrigs), criado para auxiliar na reconstrução do Estado após a enchente.
“O Estado tem, segundo a Secretaria da Saúde e com respaldo do Hospital de Clínicas, eventualmente perdido transplantes porque não tem aeronave capaz de fazer a busca desses órgãos”, justificou Leite. Segundo ele, a discussão sobre o uso dos recursos do Funrigs surgiu justamente devido às dificuldades enfrentadas pelo Estado durante eventos extremos, como as enchentes de 2024, que impactaram o sistema de saúde.
A análise da compra segue em andamento e deve passar por novas discussões antes de qualquer decisão definitiva.