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Ministérios e serviços na Igreja

Chamou atenção uma reportagem publicada domingo passado, dia 09 de julho. A abordagem trata da diminuição do número de candidatos ao presbiterado e, consequentemente de ordenações presbiterais, quando o candidato pela imposição das mãos do bispo é investido no segundo grau da ordem. É necessário olharmos além dos argumentos dispostos na reportagem.
Retomamos dois dos motivos elencados para o arrefecimento de vocações voltadas ao ministério presbiteral: 1- predominância de famílias menores; 2- concorrência da missão presbiteral com outras profissões, em tese mais atrativas.
Famílias menores
Sobre o primeiro motivo constata-se certo sentido. Há muito tempo tem predominado no Estado famílias com poucos membros. No passado as famílias eram numerosas e consequentemente a possibilidade de alguém assumir um projeto com esta especificidade era maior. Hoje as famílias têm poucos filhos. Esta condição demográfica hodierna dificulta uma opção ligada à vida presbiteral ou consagrada.
Ainda ligado a este primeiro fator vê-se o fenômeno da secularização na sociedade. O ambiente hoje é menos religioso e também com um menor cultivo da fé ligado às instituições religiosas como a Igreja Católica. As pessoas se compreendem religiosas, mas não veem a necessidade de estarem ligadas a um grupo específico. Tal cenário aponta dificuldades para a propagação da cultura vocacional voltada ao ministério ordenado. É difícil, mas não impossível. A providência divina provoca muitas reviravoltas. Assim como guiou a humanidade em tantas situações difíceis Ele apontará caminhos. Precisamos da sensibilidade, perspicácia e humildade para perceber estes caminhos e segui-los.
Vocação ao presbiterado
A vocação ao presbiterado tem proximidade, mas não está no mesmo patamar que a aptidão por um segmento profissional.  A vida presbiteral congrega outros elementos influenciadores que não são captados pela lógica do mercado de trabalho. Nenhuma pessoa entra em um seminário em vista ao presbiterado seguindo os ditames dos guias de profissões ou em vista de uma boa estabilidade financeira. As motivações estão ligadas ao ambiente propício para o amadurecimento de uma opção de vida nesta configuração.  A vida de fé, o cultivo desta fé na família, a inserção comunitária, uma experiência significativa de Deus são fatores influenciadores na opção vocacional e têm um acento mística espiritual muito forte. Como captar isso em uma pesquisa?
Chamou atenção a frase do bispo canadense Frank Leo. Ele creditava sua vocação à experiência de participar de vários ministérios e serviços na sua comunidade paroquial. Nesse ambiente de cultivo de fé nasceu sua vocação ao ministério presbiteral. Ele afirmou que duas coisas contribuíram para sua vocação: “primeiro, meu envolvimento na comunidade paroquial: me envolver em servir a Deus. Senti-me chamado para ser coroinha. E então o movimento escoteiro, o coral e tudo isso”. O segundo, o momento-chave, foi a oração e o acompanhamento”.
A Igreja e a diversidade de ministérios e serviços
É necessário também abordar um aspecto não tratado na reportagem. A Igreja tem como participantes na missão evangelizadora além dos padres muitos agentes de pastoral. Estes são necessários à missão da Igreja e a enriquecem grandemente. Os padres não estão sozinhos na missão. As comunidades católicas contam com grande variedade de pessoas que, a partir da opção de fé, contribuem com a missão evangelizadora exercendo serviços e ministérios. São catequistas, ministros extraordinários da comunhão eucarística, participantes dos movimentos eclesiais, membros de equipes de liturgia, animadores, grupos de canto, consagrados e consagradas, e tantos outros que contribuem voluntariamente com as comunidades na obra evangelizadora. A Igreja não conta somente com ministros ordenados na sua atividade. Ela conta com outras vocações, chamadas por Deus para o exercício missionário. A Conferência de Aparecida (2007) reconhece este papel tão importante:  os fiéis leigos são “os cristãos que estão incorporados a Cristo pelo batismo, que formam o povo de Deus e participam das funções de Cristo: sacerdote, profeta e rei. Eles realizam, segundo sua condição, a missão de todo o povo cristão na Igreja e no mundo. São homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja (DAp 209).
Na medida em que esses ministérios e serviços são fortalecidos, que é também um aporte vocacional, a comunidade será fonte viva das demais vocações, porque existe uma forte ligação entre as diferentes vocações. O fortalecimento de uma implicará na força da outra.  Ao tratar de uma vocação específica sempre é importante tratar do universo maior onde ela está inserida que é a vida comunitária. Nos reportamos novamente a Dom Frank Leo que afirmou:  “eu agradeço a Deus por ter crescido em uma comunidade paroquial e por todos os ministérios na paróquia. Isso para mim foi fundamental. Às vezes, dói no coração que os rapazes que entram no seminário muitas vezes não têm essa conexão com a paróquia, não tendo crescido como filho da paróquia. Acho que isso está faltando, porque você aprende a viver em comunidade, aprende sobre ministérios, aprende sobre a liturgia, aprende sobre diferentes vocações que estão lá fora, e cresce servindo a Deus nesta comunidade de diferentes maneiras”.
Sempre que tratamos do tema vocações é oportuno ler o universo mais amplo. Também assumir com sobriedade e humildade as dificuldades que são próprias desse tempo.  Também ter presente o desafio de criar nas comunidades paroquiais uma cultura vocacional que permita que as pessoas se sintam vocacionadas a servir a Igreja de Cristo assumindo diferentes serviços e ministérios, entre eles o ministério presbiteral.
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