Conta a história que um violeiro tirava músicas encantadoras de seu violão. Estava convencido de que, tendo este instrumento de cordas na mão, conseguiria resolver todos os problemas do mundo. Assim, esperava que todos se dobrassem diante de seu talento e de sua arte.
Após certo tempo, conseguiu que todas as pessoas ovacionassem suas músicas e admirassem as cordas mágicas de seu violão.
– Resta-me conquistar o reino animal – dizia -, certo de que, com o seu parceiro mudaria o mundo.
Partiu para o interior de uma floresta disposto a enfrentar as feras mais cruéis. Todos o desaconselhavam, mas nada o demovia de sua convicção.
Não demorou muito e um tigre descobriu seus passos. E foi ao seu encalço, disposto a devorar a presa. Mas, logo ficou seduzido pela melodia das notas musicais e postou-se ali, bem perto, encantado com a maestria do violeiro e o som que tirava das cordas.
Chegou então um leão que, ao ouvir os maravilhosos sons, suspendeu a refeição e pôs-se a apreciar aquelas músicas.
Vários outros bichos se aproximaram, ávidos de devorar a presa fácil que se embrenhara na floresta. Mas todos desistiam do seu vil intento, ao ouvir a sonoridade daquele estranho instrumento.
Por fim, apareceu uma onça faminta que havia farejado a presença humana em seu reino. Veio numa grande disparada, não parou para ouvir a música, ignorou a platéia de colegas e, num salto, derrubou o violonista e o devorou vorazmente.
Os outros animais ficaram chocados com tanta violência, e foram pedir satisfação à onça ingrata, que terminava sua refeição. Todos diziam a uma só voz:
– Dona onça, você não se sensibilizou com a bela música do violeiro? Como você pôde fazer isso? Que vergonha para nossa classe animal!
A onça, todavia, não entendia nada do que diziam seus amigos. Ficou assustada com o protesto. Talvez tivesse que respeitar a fila! Do que pretendem reclamar? – pensava consigo mesma. – É da minha natureza agir assim – raciocinava.
– Falem mais alto! – dizia a onça – erguendo uma pata, em forma de concha, até o ouvido direito.
Descobriram então que a onça era surda.
A melhor das músicas só faz sentido para quem é capaz de ouvi-la. Há muitas maneiras de transformar a sociedade, não só pelo violão. É bom ter sempre alternativas para enfrentar os imprevistos.