O empate do Grêmio na última terça-feira (27) ficou em segundo plano após a entrevista coletiva de Renato Portaluppi. Nela, o treinador ameaçou divulgar para a torcida uma lista de jornalistas que, na sua visão, não fazem um bom trabalho e reiterou que todos “possuem família”.
Em nota, o treinador afirmou ser contra qualquer ato de violência. Renato Gaúcho explicou que queria imaginar um cenário inverso, onde os profissionais do futebol apontassem erros na imprensa e exigissem mudanças nos veículos de comunicação.
“Não sou de fazer ameaças. Sou contra qualquer ato de violência e quem me conhece sabe muito bem disso. O que vemos cada vez mais no futebol é a total falta de respeito por parte, principalmente, de jornalistas identificados. O jogador tal é um lixo, não pode vestir a camisa desse ou daquele time. Esse jogador é uma m… Esse treinador tem de ser demitido. Entre muitas outras ofensas que são feitas todos os dias. Será que é fácil para os filhos dos jogadores, para as famílias dos jogadores, ouvir esse tipo de coisa? O que aconteceria se durante uma entrevista um profissional do futebol respondesse assim: ‘Acho que seu chefe deveria mandar você embora. Sua pergunta é muito ruim’. Foi isso que eu quis dizer”, esclareceu Renato.
A declaração feita pelo técnico do Grêmio teve uma repercussão muito negativa. Pela manhã, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul emitiu uma nota, nos seguintes termos:
“O Sindicato de Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul (SindJoRS) – com apoio da Fenaj, Federação Nacional de Jornalistas –, vem a público afirmar que NÃO ACEITA, em hipótese alguma, ameaças à integridade de jornalistas e suas famílias. Episódios recentes, envolvendo o Grêmio Football Porto-Alegrense, nos direcionam a memórias nefastas de uma época que repudiamos.
Há alguns meses, em razão da má campanha do Grêmio no Campeonato Brasileiro de Futebol (que deveria ser entretenimento), o técnico Renato Portaluppi, nas entrevistas coletivas, possivelmente como forma de desviar a atenção para a performance dele como líder da equipe, ataca jornalistas e cronistas esportivos, nas entrevistas coletivas. Até então, pensava-se ser a personagem que ele criou para si.
No entanto, esta semana, o presidente do Grêmio, Alberto Guerra, foi de uma infelicidade inenarrável, ao ofender o cronista Diogo Rossi – que publicara uma informação que recebeu de uma fonte (que, caso não procedesse, teria somente que ser desmentida), durante uma entrevista coletiva. Disse o mandatário do Grêmio: “Isso não é um colega. É um desqualificado. Acho que não deve ter sido parido. É um filho de chocadeira para falar uma besteira desse tamanho. São várias fake news dentro de uma”. A fala repercutiu e, como todo tema que envolve paixão, há quem não achou “nada demais”. Acontece que o jornalista vive de fatos e, muitos deles, advindos de fontes. A informação do Diogo Rossi nada tinha de absurda e, caso não fosse verdadeira, a atitude correta seria desmenti-la. Mas Alberto Guerra, ainda fez uma ameaça: “Faço um apelo à Aceg – Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos –, para que tome providência, pois não é possível inventar tamanho absurdo. Isso está demais. Ainda mais de gremista. Fogo amigo. Se tivesse 1% de verdade, eu não daria esse discurso”.
O SindJoRS e a Fenaj lembram a todas e todos que esse tipo de discurso não apenas fere a liberdade de imprensa, como atinge o direito do jornalista de publicizar o que suas fontes lhe apresentam. Ameaças ao trabalho de jornalistas nos remetem a uma época ditatorial que lutamos para que não se repita (ainda mais numa época em que temos, nas telas do cinema, “Ainda Estou Aqui”, relembrando o período lamentável na história brasileira).
Só piora
Para deixar a situação ainda mais deplorável, na noite desta quarta-feira (27), após mais uma atuação criticada pelos especialistas, no empate entre Grêmio e Cruzeiro, o técnico do time gaúcho, Renato Portaluppi, extrapolou todos os limites aceitáveis, voltando a atacar a imprensa, desta vez com ameaças. Disse ele, na entrevista coletiva pós-jogo: “Eu sou muito bom. E vocês da imprensa gostam de me jogar contra a torcida. Estou bem calmo hoje, mas o que vocês têm mentido para a nossa torcida é algo absurdo. […] E se eu falar que vocês ganham um dinheirinho por fora para falarem isso? Posso jogar no ventilador também. […] Se continuarem mentido, eu vou dar os nomes aos bois, vou atacar também, vou chamar de mentiroso, vou chamar alguns de covardes. Vocês têm família, vocês também têm filhos no colégio, vocês também andam por aí e o torcedor conhece bem alguns de vocês. Vocês querem que a gente passe por dificuldades? Alguns de vocês vão passar também. E vou repetir: eu não tenho medo de ninguém da imprensa”. É uma fala lamentável, posto que é repleta de ameaças e fere a democracia, chegando no limite do crime de ameaça. Colocar em risco a integridade de familiares de jornalistas, além dos próprios, é de um absurdo inominável.
O SindJoRS gostaria de poder reportar-se ao presidente do Clube, para que esse tipo de ameaça não aconteça mais, por parte de seu funcionário, mas – como foi visto no início desta nota – o treinador é respaldado por esse tipo de atitude e/ou ameaça pelo mandatário do Clube. O Sindicato de Jornalistas Profissionais do RS está atento para levar a instâncias superiores, caso não seja possível um acordo amigável de respeito. Repudiamos e lamentamos que um momento de dificuldade dentro de um Clube repercuta contra os profissionais da crônica esportiva. Já fomos muito ameaçados e desrespeitados com o presidente agora indiciado por crimes contra a democracia, dentre outros. Não vamos aceitar que todo aquele cenário volte a acontecer.”
Ari, Aceg e Aceb também se manifestaram sobre o assunto
“A Associação Riograndense de Imprensa e a Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos e a Associação dos Cronistas Esportivos do Brasil manifestam veemente repúdio às acusações genéricas e às ameaças irresponsáveis proferidas de forma reiterada pelo treinador Renato Portaluppi, do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, contra profissionais de imprensa do Rio Grande do Sul.
Embora tenha todo o direito de questionar críticas e de contestar informações que julga equivocadas, o referido profissional age no limite da delinquência e compromete a integridade do clube que defende ao incitar a torcida a constranger jornalistas e seus familiares, como fez na entrevista coletiva que concedeu depois do jogo da última quarta-feira em Belo Horizonte.
Ao divulgar publicamente esta posição conjunta, a ARI a ACEG e ACEB conclamam as autoridades no sentido de prevenir consequências graves para manifestações de tamanha irresponsabilidade.”