Grupo Planalto de comunicação

Rezar pela unidade cristã

Que todos sejam um (Jo17,21)

Nesta semana a Igreja Católica propõe a Semana de Oração pela Unidade Cristã, tradicionalmente proposta no hemisfério sul na semana que antecede a Solenidade de Pentecostes. Já no hemisfério norte acontece na semana que antecede a festa da conversão do Apóstolo Paulo. Neste ano tem como lema: “Amarás o Senhor teu Deus… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc 10, 27). A proposta de uma semana de oração acolhe a iluminação e o desígnio do Espírito Santo que suscita a unidade de todos os cristãos. Na força e inspiração do Espírito os cristãos se aproximam, superam as diferenças e rezam juntos como rezaram Pedro e Cornélio (At 10,25-48). A oração é uma forma de se viver o amor enquanto acolhida da iniciativa divina, enquanto proposta de relacionamento humano e enquanto preocupação com o bem comum da humanidade.

Segundo Luciano Pacomio na apresentação da obra do cardeal Carlo Maria Martini, “orações do cardeal Martini” a oração cristã consiste em repetir a Deus com grande confiança as Palavras de Deus; é suplicar, interceder, oferecer em união com Jesus e seu Santo Espírito; é louvar e adorar ao Pai graças à ação do mesmo Jesus e do Espírito Santo.

As diferentes denominações religiosas têm grande apreço e valor à oração. A experiência orante lhes garante uma identidade. Podem também ser uma ponte com as outras denominações.

Entre os católicos a tradição de rezar pela unidade cristã é secular e aos poucos foi encontrando sustentação no magistério eclesial. Em 1865 o Papa Leão XIII fez a recomendação da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Em 1897 na Encíclica Divinun Illud Munus, sobre o Espírito Santo, destacou o valor da oração pediu que se rezasse pelo bem e o crescimento da unidade dos Cristãos. Em 1909 o Papa Pio X concedeu a bênção oficial à Semana de Oração. Durante o seu pontificado o Papa Bento XV introduziu a Semana de Oração definitivamente como ação da Igreja Católica. Em um gesto expressivo São João Paulo II em 1986 se reuniu em Assis com irmãos de outras experiências religiosas para rezar pela paz, uma atitude de simbolismo profundo.

A crescente preocupação com a unidade cristã foi assumida com preocupação da Igreja Católica com especial atenção para a construção de uma espiritualidade da unidade que tem como um dos pilares a dimensão orante. Citamos alguns documentos do magistério eclesial que salientam a importância e recomendam a oração pela unidade.

Durante o concílio Vaticano II (1962-1965) foi aprovado Decreto conciliar Unitatis Redintegratio, sobre a reintegração da unidade cristã, que descreve a importância da oração como movimento para a unidade cristã. Assinala a oração e sua importância para os cristãos católicos, como alma do ecumenismo e como expressão de um coração convertido. Sobre a oração afirma: “esta conversão do coração e esta santidade de vida, juntamente com as orações particulares e públicas pela unidade dos cristãos, devem ser tidas como a alma de todo o movimento ecumênico, e com razão podem ser chamadas ecumenismo espiritual” (UR 8). Assegura que a prática orante é um pedido de Jesus Cristo: “é coisa habitual entre os católicos reunirem-se frequentemente para aquela oração pela unidade da Igreja que o próprio Salvador pediu ardentemente ao Pai, na vigília de sua morte: que todos sejam um” (UR 8). Também aprova o encontro com os demais cristãos de outras denominações para a oração: “é lícito e até desejável que os católicos se associem aos irmãos separados na oração. Tais preces comuns são certamente um meio muito eficaz para impetrar a unidade” (UR 8). É um vínculo de unidade entre os cristãos e com o redentor.

Em 1994 o Pontifício Conselho para a Promoção e Unidade dos Cristãos publicou o Diretório para a aplicação dos princípios e normas do ecumenismo. Ali também destaca o valor da oração. Recomenda a oração em comum considerando um meio eficaz de pedir a graça da unidade e constituem expressão autêntica dos laços que unem os católicos aos outros cristãos (Diretório 108).

São João Paulo II, em 1995, publicou a carta Encíclica Ut Unum Sint tratando sobre o caminho do ecumenismo. No documento, afirma a primazia da oração no diálogo ecumênico: “no caminho ecumênico para a unidade, a primazia pertence, sem dúvida, à oração comum, à união orante daqueles que se congregam à volta do próprio Cristo. Se os cristãos, apesar das suas divisões, souberem unir-se cada vez mais em oração comum ao redor de Cristo, crescerá a sua consciência de como é reduzido o que os divide em comparação com aquilo que os une. Se se encontrarem sempre mais assiduamente diante de Cristo na oração, os cristãos poderão ganhar coragem para enfrentar toda a dolorosa realidade humana das divisões, e reencontrar-se-ão juntos naquela comunidade da Igreja, que Cristo forma incessantemente no Espírito Santo, apesar de todas as debilidades e limitações humanas” (UUS 22).

A prece pela unidade é um caminho potente para os cristãos das diferentes denominações, porque a oração é dizer, fazer silêncio e escutar a voz do Criador a partir das diferentes contingências da vida. Aprende-se a exercitar a confiança e o abandono ao desígnio divino e então não são as nossas vontades que prevalecem, mas a vontade de Deus mesmo. Na perspectiva do diálogo vai prevalecer sobre as instituições religiosas a vontade daquele que deseja que todos sejam um (Jo 17,21).

A oração pela unidade cristã compreende um coração convertido a Deus e ao outro compreendendo que as diferenças não podem ser motivo de afastamento. Então, é possível rezar na intenção do outro que não professa a mesma trajetória de fé, mas que está aberto à proximidade e ao diálogo. É um gesto de abertura amplo segundo o princípio de que não se prioriza a particularidade, mas a necessidade do outro.

Também é possível rezar com o outro, o diferente, segundo o princípio de que é possível o entendimento via espírito orante. Na oração em comum e junto com o outro, de uma índole religiosa diferente abrimos espaço para a ação de Deus via Espírito Santo guiando nossas mentes e corações. Nas experiências de oração em comum nos enriquecemos e fortalecemos a fidelidade a Jesus e a perspectiva da construção da unidade.

Outro caminho de oração consiste em rezar pelas necessidades da humanidade que são preocupação comum. E temos muitas. São João Paulo II ensinou isto ao convocar as lideranças religiosas para rezar pela paz na cidade de Assis, como já mencionamos anteriormente, que tem motivado vários outros encontros. Neste caminho olhamos um pouco além dos nossos processos reiterando o papel das religiões no mundo.

A Semana de Oração pela Unidade Cristã assinala o compromisso com a unidade. A prece comum é um caminho fértil. Possamos exercitar este princípio que une todos nós e nos une com o Criador porque rezar é compromisso de fé, mas antes é dom vocação e graça.

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