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Semana do Migrante: amplia o espaço da tua tenda (Is 54,2)

Pe. Ari Antonio dos Reis

Nesta semana, 16-23 de junho, a Igreja do Brasil promove a Semana do Migrante tendo como tema “Migração e Casa Comum” e  lema “Amplia o espaço da tua Tenda (Is 54,2). Semana do Migrante no Brasil é promovida pelo Serviço Pastoral dos Migrantes (SPM), vinculado à Comissão Episcopal para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A promoção já está na 39ª edição e tem sido momento significativo de reflexão sobre a realidade da migração com foco no Brasil, mas com extensão para a realidade mundial.

O ser humano é por natureza itinerante. Sempre migrou em busca de melhores condições de vida. Todavia, algumas situações provocam ciclos mais intensos de migração dos quais destacamos as situações extrema de pobreza, fome, as guerras, as transformações climáticas, entre outros. Diante da dificuldade de se viver com dignidade em determinado lugar busca-se outro lugar e espera-se acolhida nesse lugar.

Antes de combater a migração deve-se enfrentar corajosamente as causas da migração como afirma o Papa Francisco: “devemos trabalhar arduamente para garantir a todos o direito de não terem de migrar. Os migrantes fogem da pobreza, do medo, do desespero. Para eliminar estas causas e assim pôr fim à migração forçada, é necessário o compromisso comum de todos, cada um segundo as suas responsabilidades”.

O tema sugerido para esse ano, a saber, migração e casa comum assegura que o mundo é verdadeiramente a casa comum de todo o ser humano; comum porque é de todos, e todo o ser humano deveria ter um lugar para viver com dignidade. Logo não é condizente com a expressão “casa comum” cercear  o direito de ir e vir e muito menos fazer da migração, comum à natureza humana, um meio perverso para o crime organizado ganhar dinheiro fácil, como tem acontecido ultimamente.

A experiência migratória, quando não pressionada pelas condições adversas de vida, permite a troca de dons, saberes e experiências. Permite também uma grande abertura de vida e enriquecimento.

A região de Passo Fundo é a que se configura hoje, porque no passado abriu-se aos diferentes povos e culturas, algo fartamente descrito em diversas publicações. Sublinha-se que se abriu a vários povos e culturas, processo que hoje se repete com a imigração de índole contemporânea, mas com o desafio da superação dos fechamentos comuns ao ser humano.

Acolher os que vêm de fora sempre será um desafio porque a cultura diferenciada, o agir diferente, o rezar, a forma de se alimentar, se relacionar, desafiam a interação, a compreensão. Entretanto são caminhos de enriquecimento pessoal e cultural. Ampliam nossos horizontes de vida. Na Encíclica Fratelli Tutti o Papa Francisco afirma: os nossos esforços a favor das pessoas migrantes podem resumir-se em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar (FT 129).

O lema, “amplia o espaço da tua tenda”, tem um fundamento bíblico que reporta aos tempos finais do Exílio Babilônico (595-538 a.C). O texto afirma: “alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam, e estica as tuas cordas, fixa bem as tuas estacas” (Is 42,2). O contexto lembra a situação do povo exilado que ansiava pelo retorno a terra, deixando a humilhante situação na Babilônia. Todavia, tinham um grande compromisso. Aquela tenda, símbolo da memória exodal, deveria ser alargada para proteger não somente os próximos, os de casa, mas também os que eventualmente iriam fazer-se próximos.

A atitude de ampliar o espaço da tenda também compreendia outras atitudes correlatas à primeira. Implicava preparar a tenda para que se exercitasse a acolhida com as condições de abrigar as pessoas que eventualmente se aproximassem. Para tanto urgia equilibrar as cordas e mantê-las firmes para que suportassem os ventos contrários e as tensões. Fixar as estacas para manter a solidez da tenda, porém sem uma rigidez que impedisse de serem movidas para outro lugar.

O processo iria além do espontaneísmo de pouca duração, mas   buscava o amadurecimento da experiência enquanto povo em superação do trauma do exílio e também com Deus, como aconteceu no deserto. A experiência do Êxodo foi uma experiência pedagógica e uma experiência de fé. Permaneceu como grande referência. Ao buscar o retorno do exílio sabia-se, pela voz do profeta, que o povo estava sob a proteção do Senhor, porque Ele mesmo garantiu que iria conduzir o seu povo naquele novo êxodo (Is 54,12).

Entretanto, o compromisso em alargar o espaço da tenda implicava em fugir a qualquer tentação de privilégio de povo escolhido e ser um sinal de salvação para outros povos e culturas. A cidade de Jerusalém simbolizava este compromisso.

A proposta de reflexão da semana das migrações desse ano é um convite a compreender a amplitude do fenômeno migratório no mundo e na nossa região. A leitura do mundo como a casa comum de todos os homens e mulheres, assumido como tema, convida a superar a cultura dos muros e cercas. Casa comum é casa de todos. Cercear a liberdade de ir e vir é violar o princípio da casa comum. É contrário ao direito divino. É algo a ser denunciado.

O lema “amplia o espaço da tua tenta”, tirado do texto de Isaías, assinala o compromisso da potencialização da solidariedade e do encontro, que vai além do espectro de um povo ou cultura.

Uma tenda ampliada permite o enriquecimento e o fortalecimento de povos e culturas porque ousaram a olhar para além de um horizonte, tentação de nossos dias.

Pe. Ari Antonio dos Reis

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